Título: Latinos responderam por 55% da expansão do saldo comercial
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Brasil, p. A4

Os países da América Latina responderam por mais da metade da expansão do saldo da balança comercial brasileira em 2004. O destaque ficou para a Argentina, parceira do Brasil no Mercosul, que garantiu 21,5% do aumento. A União Européia contribuiu com 31,4% e os Estados Unidos responderam por apenas 18,6%. Em contrapartida, parceiros considerados prioritários pela política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prejudicaram o saldo da balança. Foi o caso da China, com contribuição negativa de 7,4%, e da África, com 16,9%. Os cálculos da contribuição para a expansão do superávit são da Tendências Consultoria e foram feitos dividindo a variação do saldo de cada bloco com o Brasil pela variação do saldo total da balança. Conforme o estudo, os países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) responderam por 55,8% do aumento do saldo. De 2003 para 2004, o superávit comercial brasileiro aumentou em US$ 8,9 bilhões, para US$ 33,7 bilhões. Já o saldo com a Aladi foi incrementado em quase US$ 5 bilhões, para US$ 9,7 bilhões. Além do Brasil, fazem parte da Aladi: México, Cuba, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Chile e Argentina.

Para o economista Frederico Estrella, da Tendências, dois fatores explicam a expressiva participação da América Latina no saldo: as taxas de crescimento do continente e a preponderância de produtos manufaturados nas exportações brasileiras para esses destinos. "A recuperação da economia argentina foi forte, o que aumentou muito as exportações", diz Estrella. Os embarques para a Argentina cresceram 61,7% em 2004, enquanto as importações subiram 19,3%. Júlio Callegari, economista do JP Morgan, considera "razoável e até inevitável" essa dependência do saldo de 2004 em relação à América Latina. "Exportamos manufaturados para esses países. Se a renda cresce, as importações desses produtos aumentam". Nos cálculos do banco americano, a América Latina cresceu 6% no ano passado, com destaque para a Venezuela (15%) e Argentina (8%). Em 2005, a região deve crescer 3,9% - um percentual expressivo, mas bastante inferior. Esse fator contribuirá para reduzir o vigor das exportações brasileiras em 2005. Os Estados Unidos cresceram 4,5% em 2004 e são o principal cliente de manufaturados do Brasil. Mesmo assim, a maior potência mundial contribuiu com 18,6% da expansão do saldo brasileiro. Para os economistas, a valorização do real ante o dólar reduziu a competitividade dos produtos do Brasil no mercado americano. Callegari pondera, porém, que o crescimento das exportações brasileiras para os Estados Unidos ficou acima da média das importações americanas. As importações totais dos EUA aumentaram 16% até outubro (último dado disponível), enquanto as exportações brasileiras para o país subiram 20% no ano. A União Européia teve contribuição importante para a expansão do saldo da balança brasileira: 31,4%. Esse percentual se deve à alta do preço das commodities e à maior competitividade dos produtos brasileiros por conta da valorização do euro ante o dólar. Já a China registrou contribuição negativa de 7,4% para a balança brasileira. Para economistas, isso se deve à forte queda dos preços da soja, principal produto da pauta de exportação para a China, e à recuperação do mercado interno, que impulsionou as importações de produtos chineses. As exportações brasileiras para a China aumentaram 20% em 2004, depois de crescerem 79% em 2003. Já as importações subiram 72,7% em 2004, ante 38,2% em 2003. A África também prejudicou o saldo, com contribuição negativa de 16,9%. As exportações para o continente aumentaram 48,4%, mas as importações subiram 88,3%, influenciadas pela alta dos preços do petróleo.