Título: Balbinotti é confirmado, apesar de denúncias
Autor: Zanatta, Mauro e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Política, p. A9

Mesmo sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) foi confirmado ontem pelo Palácio do Planalto como futuro ministro da Agricultura. O governo informou que continua a recolher "mais informações" sobre as acusações de falsidade ideológica que pesam contra o deputado. A posse está marcada para quinta-feira.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, explicou a escolha. "O que consta para nós é que ele está sendo investigado. Nem foi denunciado nem foi formada culpa contra ele. Até a próxima quinta, o presidente Lula continuará recolhendo mais informações sobre o caso", disse. E afastou a hipótese de troca da indicação. "Não há, até agora, nada que possa a vir a descaracterizar o convite feito pelo presidente". Segundo Genro, Balbinotti foi escolhido por ser respeitado pelo setor. "Ele tem apoio da bancada ruralista, da bancada do PMDB e de duas personalidades políticas da coalizão, os governadores Roberto Requião e Blairo Maggi", disse.

Ao longo do dia de ontem, a cúpula do PMDB montou uma estratégia para sair da defensiva, mas alguns deputados chegaram a sugerir a apresentação logo de outro nome para a Pasta, como o de Waldemir Moka (PMDB-MS), que constava da lista inicial. Em sua defesa, Balbinotti declarou: "Se eu tivesse culpa, causaria (constrangimento), mas sou inocente. Estou tranqüilo e a nação também está tranqüila. Vamos trabalhar em prol do pequeno, do médio e do grande agricultor". Aos colegas, reafirmou inocência e pediu ajuda para superar a crise.

Em nota, o advogado do deputado, Aristides Junqueira, tentou contornar a situação ao informar que o "suposto crime" está relacionado com a atividade de produtor rural de Balbinotti. "Todavia, tal fato ocorreu quando ele já era deputado federal e não mais administrava sua empresa rural, pois desde o primeiro mandato nomeou procuradores para gerir seus negócios".

A pendência judicial surpreendeu e causou constrangimento em lideranças do setor rural e na bancada ruralista do Congresso. "Começamos muito mal. Parece até algo pensado para denegrir a imagem do setor. Quem o indicou tem a obrigação de defendê-lo", afirmou o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), em referência aos governadores do Paraná, Roberto Requião, e do Mato Grosso, Blairo Maggi. "Ele não tem atuação expressiva no setor. Mas esse ministério não tem adiantado nada para nós, mesmo quando tivemos a maior estrela do setor, o Roberto Rodrigues", disse a senadora Kátia Abreu (PFL-TO). O vice-presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, pede que a indicação seja repensada. "Quem pleiteia um cargo desse tipo não pode ter qualquer problema", disse. O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) preferiu neutralidade: "Não posso falar mal, mas também não posso falar bem. Simplesmente não o conheço". O vice-presidente da Contag, Alfredo Broch, mostrou-se preocupado. "Foi uma surpresa. Preocupa que possa ter retrocesso nas políticas da Conab e da Embrapa. Ele é muitíssimo pouco conhecido. É um nome de pouco trânsito", analisou. Apesar de considerar a indicação positiva, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) ressalvou, em nota, que Balbinotti "é ainda pouco conhecido entre as lideranças rurais, bem como tem fraco relacionamento junto à bancada ruralista no Congresso".

Embora seus detratores apontem a baixa presença em sessões deliberativas da Câmara, a falta de atuação em grande temas do agronegócio e até o fato de ter empregado o cunhado, Luiz Paiola, em seu gabinete, Balbinotti recebeu apoios de outras correntes do setor. O deputado Homero Pereira (PR-MT) "Ele não tem muita militância nas grandes causas do setor, mas isso não o descredencia. Cabe apoiar para que seja um grande ministro. Acabou a fase de torcer para um ou para outro", afirmou. Sobre a indicação, Pereira revelou. "O Blairo foi consultado e o abençoou. E pediu ao nosso grupo para dar apoio ao novo ministro".

O secretário da Agricultura de Santa Catarina, Antonio Ceron (PFL), acredita que as ligações de Balbinotti com a região Sul e o PMDB podem favorecer os catarinenses.

O secretário de Agricultura de São Paulo, João Sampaio, avalia que o deputado "pode fazer um bom trabalho porque é empreendedor". "Já que a opção foi política, foi boa escolha. É um deputado produtor, que conhece os problemas do setor", afirmou. O assessor da presidência da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Carlos Albuquerque, disse que a principal vantagem de Balbinoti é justamente conhecer o setor. "É um grande produtor de semente, inclusive transgênica, o que significa que defenderá a tecnologia".

O presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, disse esperar atuação em relação às dívidas do setor e a real capacidade de pagamento dos produtores. O presidente das federação das cooperativas gaúchas, Ruy Polidoro, espera a redução dos juros do setor de 8,75% para 6% ao ano. O presidente do Sindicato da Indústria do Álcool e do Açúcar de Pernambuco, Renato Cunha, disse que a nomeação "é bastante favorável ao setor porque é de alguém que acumula a experiência de empresário e de político". (Colaboraram Sérgio Bueno, de Porto Alegre, Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis, Marli Lima, de Curitiba, Carolina Mandl, do Recife, e Alda do Amaral Rocha, de São Paulo)