Título: Exército é acusado de encobrir execuções extrajudiciais
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Internacional, p. A14

O Exército colombiano, fortemente armado e treinado pelos EUA, está enfrentando um número crescente de acusações de matar civis e dizer depois que os corpos são de rebeldes de esquerda, afirmou um levantamento anual da ONU sobre direitos humanos divulgado ontem.

Os investigadores das Nações Unidas disseram ter recebido mais denúncias em 2006 que no ano anterior de execuções extrajudiciais atribuídas a soldados que relataram esses incidentes como mortes de guerrilheiros ou membros de outros grupos armados em combate. "Em muitos casos, três elementos em comum foram identificados", afirmou o documento.

"A apresentação de vítimas civis como mortas em combate, a alteração da cena do crime por seus autores e a investigação dos fatos pelo sistema de Justiça Militar."

Ativistas afirmam que esse tipo de crime deveria ser investigado pela Justiça civil. "Essa violação gravíssima não se limita a uma única unidade militar", afirmou o relatório, que não trouxe números. "Ela afeta várias unidades em todo o território nacional."

O governo respondeu ao documento com uma declaração dizendo que o Exército estava reforçando suas salvaguardas aos direitos humanos. Também afirmou que execuções extrajudiciais por soldados são rigorosamente punidas.

Guerrilheiros lutam na Colômbia desde os anos 1960. Na década de 1980, proprietários de terras formaram grupos paramilitares de ultradireita para se proteger. Os dois grupos passaram a se enfrentar, ambos envolvidos com o narcotráfico.

Mais de 31 mil paramilitares entregaram suas armas por causa do acordo de paz fechado com o presidente Álvaro Uribe, que ofereceu garantias como penas reduzidas de prisão.

O relatório acusa os paramilitares de não devolverem crianças que lutaram a seu lado, impedindo que elas se reabilitem, e afirma que muitos comandantes paramilitares de médio escalão criaram organizações criminosas.

"As estruturas do paramilitarismo estão menos visíveis e mais fragmentadas, o que torna mais difícil combatê-las", disse o texto.

Uribe mantém a popularidade em alta, apesar do escândalo gerado pela revelação do envolvimento de aliados parlamentares e de seu ex-chefe de inteligência com os grupos paramilitares, responsabilizados por alguns dos piores massacres do confronto.