Título: Volatilidade é temporária, diz ata do Copom
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Finanças, p. C2

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, reforçou o discurso da parcimônia na condução da política monetária. No documento, o BC também deixa claro que vê como temporária a volatilidade dos mercados internacionais.

"Os membros do Copom entendem que a preservação das importantes conquistas no combate à inflação (...) demanda que a flexibilização monetária seja conduzida com parcimônia", diz o texto.

Na semana passada, o Copom cortou os juros básicos da economia em apenas 0,25 ponto percentual, para 12,75% ao ano, em uma decisão unânime. Na reunião anterior, de janeiro, o corte também havia sido de 0,25 ponto, mas uma minoria dentro do comitê, formada por três membros, queria corte de 0,5 ponto. A ata divulgada ontem não dá nenhuma explicação sobre o que levou esses votos dissidentes a se juntarem à maioria.

O Copom reproduziu justificativas apresentadas nas atas anteriores de que a cautela é necessária "tendo em vista os estímulos já existentes para a expansão da demanda agregada, as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária, a menor distância entre a taxa de juros corrente e as taxas de juros que deverão vigorar em equilíbrio de médio prazo e os cortes já implementados desde agosto de 2005".

Mas saiu da ata uma frase que vinha sendo repetida desde meados de 2006 segundo a qual um ritmo de corte de 0,25 ponto percentual "contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado" - ou seja, indo mais devagar, o corte total dos juros poderá ser maior.

Houve melhora nas projeções de inflação do BC para 2007 e 2008 que usam os valores estimados pelo mercado para juros e câmbio. A ata não abre os percentuais, indicando apenas que, para 2007, a inflação projetada ficou ainda mais abaixo da meta, fixada em 4,5%. Apesar de ter recuado, a projeção de inflação para 2008 permanece acima da meta, também fixada em 4,5%.

A projeção do BC para 2007 mostra que, em tese, há espaço para cortar os juros esperado pelo mercado - que projeta taxa Selic de 11,5% no fim de 2006 e de 10,5% no fim de 2008. Mas a projeção para 2008, acima da meta, aconselha justamente o contrário: cortar juros menos que o esperado. No cenário básico, que supõe juros estáveis em 13% ao ano e câmbio em R$ 2,10, vigentes às vésperas da reunião, a inflação ficaria abaixo da meta em 2007 e em 2008.

"O BC se mostra tranqüilo quanto à inflação de curto prazo e diz que, embora a demanda esteja forte, há espaço para acomodá-la", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimento. "A sinalização é que há margem para continuar cortando juros, mas não com uma velocidade muito grande, porque existem preocupações de médio prazo sobre como os cortes feitos até agora nos juros e a expansão fiscal vão chegar à atividade econômica e preços."

Na ata, o Copom se mostra bastante tranqüilo sobre os riscos de a volatilidade no mercado internacional atingir a economia brasileira. A visão do BC é que o principal motor das incertezas é o risco de que a economia americana tenha se desacelerado de maneira mais pronunciada, ainda que tenha havido alguma influência das incertezas sobre as economias e mercados asiáticos.

"Na avaliação do Copom, essa instabilidade dos mercados financeiros globais e seus reflexos nos preços dos ativos brasileiros não configuram um quadro de crise, tanto devido ao caráter potencialmente transitório de suas causas principais, quanto graças aos sólidos fundamentos da economia brasileira", diz a ata.

"A ata basicamente confirma a visão corrente no mercado financeiro de que a volatilidade nos mercados financeiros é temporária e não afeta o Brasil", disse o economista Elson Teles, da Concórdia Corretora. "Na essência, o BC divulgou uma ata neutra, que serviu apenas para mudar a opinião de alguns dos poucos que ainda acham possível um corte de 0,5 ponto na taxa Selic."