Título: Banco argentino pode lançar ações na Bovespa
Autor: Rocha, Janes e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Finanças, p. C5

Pela primeira vez, um banco argentino poderá abrir o capital e se listar na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Banco Patagônia, segundo maior de capital privado nacional, 12º em depósitos e 13 º em ativos na Argentina, prepara o lançamento de ações nas bolsas de Buenos Aires e de São Paulo.

Segundo se comenta no mercado financeiro argentino, a venda poderá ficar entre 20% e 40% do capital do banco. Segundo os dados do Banco Central da Argentina, em dezembro de 2006, o Patagônia tinha um patrimônio líquido de 1,05 bilhão de pesos (equivalentes a aproximadamente US$ 350 milhões), e um capital de 780 milhões de pesos (US$ 260 milhões). Assim, a operação seria de algo entre US$ 50 milhões a US$ 100 milhões. Mas o tamanho da operação não está definido.

Para viabilizar o lançamento, que deve se tornar público dentro de algumas semanas, o Patagônia já contratou instituições no Brasil para assessorá-lo, que segundo apurou o Valor, serão o banco JP Morgan e o escritório de advocacia Mattos Filho. Segundo fonte que acompanha o processo, representantes do banco já estiveram no Brasil para conversas com agentes e autoridades do mercado local. Procurado pela reportagem do Valor, o banco respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não faria comentários.

De acordo com uma fonte que acompanha o mercado de ofertas brasileiro, o Banco Patagônia seria a instituição mais adiantada no processo de estruturação de uma abertura de capital na Bovespa entre outras empresas sul-americanas que já teriam sondado o mercado local, interessados nos investidores estrangeiros que costumam levar mais da metade do valor ofertado pelas novas companhias que estão abrindo o capital.

Segundo um especialista que atua nesse mercado, ainda não há outros ´vizinhos´ com projetos firmes de listagem por aqui. Ele acredita, porém, que se o Banco Patagônia concretizar sua operação, poderá trazer empresas no seu rastro. "Seria a primeira do gênero e apresentaria o Brasil como mercado líquido e uma alternativa à listagem em Nova York ou Londres, com custos menores. E, se for bem-sucedida, pode desenvolver um novo mercado para o Brasil", afirmou.

O Patagônia não é o primeiro banco argentino a acessar o mercado internacional de capitais. A Argentina tem três bancos listados na Bolsa de Nova York com emissões de ADR, o Hipotecário, o Francés (controlado pelo espanhol BBVA) e o Galícia.

No ano passado, se somaram aos de capital aberto ao público o Banco Río (que pertence ao Santander) e o Macro, de capital argentino, que lançaram títulos na Bolsa de Buenos Aires. O Macro também fez uma bem sucedida captação em bônus no mercado internacional.

O Patagônia nasceu em 1988 a partir da fusão de uma casa de câmbio, a Mildesa com a financeira da Volkswagen, Finangen. Em 1996, participou do processo de privatização empreendido pelo governo Carlos Menen, incorporando as ações do Banco de la Provincia de Río Negro. Depois da crise, que abalou fortemente o sistema financeiro argentino em 2002, o Patagônia adquiriu as operações do Sudameris, controlado pela Banca Intesa italiana que deixou a Argentina depois de 90 anos de atividade no país. Pouco depois, em 2004, arrematou os negócios do Lloyds Bank TSB que também deixou o país depois de mais de 140 anos de presença, conseqüência da crise.

Segundo dados do Banco Central da Argentina, o Patagônia encerrou 2006 com ativos de 5,3 bilhões de pesos (equivalentes, aproximadamente, a US$ 1,76 bilhão), empréstimos de 2,5 bilhões, depósitos de 3,6 bilhões e patrimônio de 1,05 bilhão. Em um ranking preparado pela Associação Argentina de Bancos (ABA), com base nos balancetes de novembro de 2006, o banco aparece como dono de 923 mil contas ativas e 324,4 mil cartões de crédito em circulação. Sua carteira de empréstimos, de 3,6 bilhões de pesos, é composta em sua maior parte (68,9%) por operações comerciais e 27,2% de crédito ao consumo. O lucro líquido em 2006, de 269,8 milhões de pesos, foi 15% superior ao de 2005, que por sua vez foi quase 160% maior que o de 2004. O retorno sobre o patrimônio líquido, de 34,82% em 2005, ficou um pouco abaixo dos 39,69% de 2005, mas muito acima dos 16,17% registrados em 2004.

Para o economista Alberto Musalen, diretor do Centro de Estabilidade Financeira, um "think tank" especializado no setor, a abertura de capital e a busca por novos recursos pelos bancos argentinos têm a ver com o forte crescimento do sistema como um todo (40% no ano passado), que vem estimulando a concorrência entre eles.

"O crédito na Argentina é de apenas 11% do PIB, no Brasil é mais do que o dobro e no Chile supera 50%. Isso significa que há um grande mercado a ser explorado e os bancos estão se preparando", comentou Musalen.