Título: Petistas e tucanos foram espectadores de Eduardo
Autor: Simão, Edna; Junqueira, Caio; Sousa, Yvna
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2013, Política, p. A12

A imagem que melhor retratou o resultado político da reunião dos governadores foi a que se deu tão logo ela foi encerrada, após surpreendentes 1h10min de duração. Foi possível ver, ali, pelo tamanho do círculo que se formou ao redor de cada um deles, quem deu as cartas no encontro.

Em volta do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, criou-se um muro de repórteres e políticos, que contrastava com aquele em torno do governador do Estado mais poderoso do país, o tucano Geraldo Alckmin, de São Paulo, ou de governadores com estreita ligação com o Palácio do Planalto, como o petista Jaques Wagner, da Bahia.

A festa, afinal, não era do governo, muito menos da oposição. Era de quem se coloca no ambíguo meio termo entre esses dois pontos: Eduardo Campos.

Se houver dúvidas quanto a isso, basta ver a quais governadores coube a palavra. A regra anunciada pelos organizadores era um por região. Considerando que assim o fosse, por que não o tucano Beto Richa, do Paraná? Em seu lugar, falou Raimundo Colombo, de Santa Catarina, do PSD, e um dos maiores entusiastas da candidatura presidencial de Eduardo presentes ali, no Salão Negro da Câmara.

Pelo Centro-Oeste, falou André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul, Estado onde seu PMDB vive às turras com o PT e sempre ameaça sair do barco governista liderado pelo vice-presidente Michel Temer. Por que não em 2014? Puccinelli fez o discurso mais duro contra "a União", figura jurídica adotada por todos ali para disfarçar o alvo contra o qual se dirigiam todos os ataques: o governo federal.

Chegou, então, a vez do governador do Nordeste falar. O escolhido? Eduardo Campos, com a mais política das propostas e que deve ter deixado os ministros Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento) e a chefe de ambos, a presidente Dilma Rousseff, de cabelos em pé: a previsão de receita para todos os projetos aprovados no Congresso que criam despesas a Estados e municípios.

A sugestão de Eduardo vai na veia de uma estrutura político-administrativa federal incrementada pelo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e disseminada na era Lula-Dilma (PT). Por meio dela, governadores e prefeitos recebem todos os ônus dos mais de 200 programas federais existentes, mas assistem passivos a todo o bônus eleitoral a eles relacionados ser colhido pelo Palácio do Planalto. Tudo ao custo de milhões de reais em propaganda. É, portanto, a ideia que mais tem efeitos políticos imediatos de todas as propostas discutidas na reunião. Os aplausos recebidos ao anunciá-la é o melhor sinal disso.

Depois de Eduardo, falou outro governador do Nordeste. Não foi o petista Jaques Wagner. Foi outro, também do PSB, Cid Gomes, do Ceará, apenas para lembrar ao pernambucano que ele tem problemas internos se quiser viabilizar sua candidatura. Cid foi o único a citar nominalmente Dilma e a elogiá-la. "O governo tem feito o que é melhor para o Brasil", afirmou. Silêncio constrangedor.

Na sequência, quando finalmente o microfone poderia ir para o PSDB - era a vez do Pará, governado pelo tucano Simão Jatene - seu vice, Helenilson Pontes, foi apresentado ao público. Seu partido? O PPS, o mesmo que trabalha pela conexão entre Eduardo e José Serra em 2014.

Acabou que a polarização que domina a política nacional desde 1994 teve seu momento de trégua com PSDB e PT assumindo papel de espectadores de Eduardo. Algo visto já na véspera, nas reuniões preparatórias, quando Eduardo liderou uma nova proposta que ameniza os efeitos da nova redistribuição dos royalties aos Estados produtores, Espírito Santo, Rio e São Paulo. Justamente nos colégios eleitorais onde ele é frágil eleitoralmente.

No fim, o que esses dois dias comprovaram é que, a despeito dos conhecidos obstáculos que Eduardo tem para viabilizar sua candidatura, ele é a vedete do meio político atualmente. E com direito a dois mestres-de-cerimônia de luxo, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Dois, aliás, que chegaram aos seus cargos com apoio do governo, mas saíram da reunião de ontem mais do que satisfeitos com o resultado final.