Título: Usiminas revisa e amplia investimento para US$ 8,4 bilhões
Autor: Moreira, Ivana e Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Empresas, p. B9

Com uma estratégia mais cautelosa, de "pé no chão", e de otimização de ativos existentes, a Usiminas lançou ontem uma nova versão de seu plano de investimento de longo prazo, que vai até 2015. O programa anunciado cresceu, em valor, em torno de 75% sobre o programa divulgado em dezembro de 2005, que previa alocar cerca de US$ 5 bilhões em duas "ondas" de projetos nas usinas de Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, e Cubatão, na Baixada Santista.

A nova intenção da companhia, que se encontra hoje enxuta em termos financeiros - dívida líquida quase irrisória de R$ 760 milhões - abrange US$ 8,4 bilhões. Esse valor está dividido em US$ 4,3 bilhões para Ipatinga, US$ 1,4 bilhão para Cubatão e inclui uma terceira usina, orçada em US$ 2,7 bilhões para fabricar 3 milhões de toneladas de aço ao ano, mas ainda sem data nem local definidos.

A primeira opção de local para instalação dessa usina é Cubatão "Já está aprovada pelo conselho, mas vai depender de como estará o apetite do mercado, interno e mundial, por volta de 2014", afirmou Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas.

O novo plano da Usiminas, desdobrado em "duas ondas e meia", tem o foco centrado em expansão orgânica para ampliar sua capacidade de produção das atuais 9,5 milhões de toneladas para 12 milhões num primeiro momento e 15 milhões numa segunda fase. Não prevê crescimento via aquisição de ativos fora do país, estratégia adotada por outros grupos.

A empresa desistiu da idéia de crescer com uma única usina, de 5 milhões de toneladas de placas, a qual previa parceria com um sócio estratégico. Optou por algo em fases. No mais tardar, até 2011, vai pôr em operação, com desembolso de US$ 2,6 bilhões, novas instalações em Ipatinga - novo alto-forno, que poderá substituir dois atuais, antigos e pequenos, nova aciaria, mais 600 mil toneladas na laminação quente e mais 500 mil no laminador de chapas grossas. A usina mineira, idealizada na década de 50, vai adicionar 2,2 milhões de toneladas, indo a 7 milhões. A obras começam O início das deve ocorrer em março de 2008.

"Para arcar com esses investimentos, a Usiminas não precisará mais de parceiros. Isso só deverá ocorrer no caso de agregação de valor no exterior, como EUA, com uma aliança ou joint venture para laminar placas fabricadas no Brasil", disse Soares. Ipatinga, com o novo projeto, terá volume extra desse material de 1,1 milhão de toneladas. Esse mesmo material, exportado hoje pela Cosipa, será beneficiado em novo linha da usina.

Campos Soares negou que a mudança nos planos tenha relação com o fato de não ter encontrado parceiro estratégico para o antigo projeto da nova usina de placas, o qual ficaria com pelo menos metade da produção. "Encontrar um sócio não é mais uma condicionante", explicou o presidente. "Hoje é outra a realidade", disse.

O executivo referiu-se às mudanças ocorridas com a reestruturação societária na Usiminas em novembro, permitindo entrada da Vale do Rio Doce no bloco de controle e aumento do poder de decisão dos grupos Votorantim, Camargo Corrêa e Nippon Steel. A nova composição de forças, afirmou, mostrou comprometimento de longo prazo por parte desses acionistas para com a companhia, que tem 17 empresas, fatura R$ 13 bilhões e produziu 8,8 milhões de toneladas de aço em 2006.

"Eles têm visão de longo prazo e dão suporte aos planos de crescimento da empresa, focada em nichos de maior rentabilidade. "A Usiminas está preparada para dar um salto com segurança", disse.

Segundo o executivo, as análises para a expansão foram refeitas e mostraram que "será mais fácil, mais rápido e irá custar menos" investir na "própria casa", aproveitando a área do terreno de Ipatinga. Ele lembrou que há demanda interna crescente no setor automotivo, setor no qual a Usiminas detém a liderança com 60% desse mercado. Com expectativa de crescimento da produção de carros no país, será preciso elevar a capacidade da siderúrgica para não perder mercado doméstico. "Estamos trabalhando muito próxima ao limite da capacidade instalada".

"Temos um mercado nosso; por isso vamos fazer (a expansão) onde ganhamos mais dinheiro", afirmou. "No setor é assim, ganha-se mais dinheiro no seu próprio mercado." O aumento de 2,2 milhões de toneladas em Ipatinga, segundo Soares, será direcionada para os produtos de alto valor agregado.

A previsão é de que a usina de Ipatinga esteja operando com a nova capacidade até 2011, somando capacidade total de 7 milhões de toneladas, 1,5 milhão de chapas grossas e 760 mil de aços galvanizados a quente, com a decisão de instalar nova linha.

Embora com opção de crescer organicamente, a Usiminas não descarta disputar a aquisição de ativos no exterior. Caso da usina Sparrows Point, da Mittal, nos EUA, que deverá ser posta à venda em breve. Soares disse que o pacote de investimento até 2011, com 30% de recursos próprios, não será impedimento. A geração de caixa da empresa supera R$ 4 bilhões.