Título: Vale estuda entrar na navegação de longa distância
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Empresas, p. B9

Apesar de ter se desfeito de boa parte de sua frota de 18 graneleiros em 2001, a Companhia Vale do Rio Doce planeja voltar a navegação de longo curso com navios de grande porte. Mas a empresa ainda não definiu se toca o negócio sozinha ou associada a clientes, informa Fábio Barbosa, diretor- executivo de finanças. A mineradora vai voltar à cabotagem e já pediu empréstimo de US$ 350 milhões ao Fundo de Marinha Mercante (FMM) para construir cinco navios para a Log-In, nova subsidiária.

A intenção da Vale, disse Barbosa, é "interferir" no mercado de frete de minério e metais para reduzir o que chama de "arbitragem" na fixação dos preços do serviço, principalmente para a Ásia, onde o fluxo de comércio é mais intenso. A mineradora pretende atuar sobre o que considera "ganhos excessivos e artificiais" capturando parte deste valor e repassá-lo à clientela. Os clientes da Vale compram o minério com preço FOB (posto no porto) e arcam com o custo do transporte até o destino final.

O frete do minério de ferro para a China está hoje em US$ 40 por tonelada, valor assemelhado ao da tonelada do produto, na faixa de US$ 40 por tonelada. Os fretes estão em alta e podem subir mais após a decisão da Índia de taxar as exportações do minério. Em 2006, os chineses importaram 70 milhões de toneladas da Vale e gastaram US$ 3 bilhões com frete, diz o executivo. Para este ano, a previsão da Vale é vender 100 milhões de toneladas para a China.

Os planos da mineradora na navegação incluem a retomada da cabotagem com embarcações próprias, oferecendo serviços para terceiros através da Log-In, subsidiária que terá em breve 30% de seu capital pulverizado no mercado. Hoje, a empresa utiliza cinco navios de contêineres afretados numa linha regular da Frota Oceânica. O afretamento é feito através de uma empresa SPE (sociedade de propósito especial) onde a Vale é sócia da japonesa Mitsui.

Os US$ 350 milhões do FMM serão usados para construir cinco embarcações de cabotagem. A encomenda destes navios no Brasil vai depender, segundo Barbosa, "se aqui for o lugar mais competitivo para tanto, isto sendo tudo considerado, inclusive o valor de financiamento".

O Valor apurou com especialistas do setor naval que no caso de navios de cabotagem com bandeira brasileira, a Vale vai ter que encomendar as embarcações no país. Mas, para navios de longo curso, a bandeira é livre. Neste caso, a Vale poderá criar uma empresa off-shore e basear os graneleiros no exterior, com a bandeira do país onde for instalada a empresa. Mas, as fontes alertam que o grande gargalo é o prazo de construção dos navios. Atualmente qualquer pedido só pode é atendido em cinco anos, pois os estaleiros estão com muitos pedidos devido a forte demanda por minérios e metais.

Barbosa não detalhou os planos para recompor sua frota, que segundo informações do mercado poderá ter entre 10 a 20 graneleiros. Para o analista Pedro Galdi, do ABN Amro, a decisão é correta no momento. A questão é o cenário mundial mudar no meio do caminho. De qualquer maneira, hoje, o grande gargalo que existe para minérios e metais, é o frete, diz Galdi.

Para o analista, "se a Vale tiver navios próprios pode ficar mais competitiva no mercado chinês porque poderá dar um desconto no frete para sua clientela e ter preços competitivos em relação a outros fornecedores". Ele lembra que a empresa poderá usar o navio na volta da China para trazer carvão, produzido por seus projetos na China, África e Austrália. "Isto trás sinergia para seu negócio". Ele alerta que "esta estratégia é acertada dentro da condição de que este aquecimento da economia global permaneça por um algum tempo".