Título: Ausência de regras afeta interesse na infra-estrutura
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Brasil, p. A3

O mapa do investimento chinês no Brasil está muito distante dos megalomaníacos números aventados com a aproximação política de Brasil e China em 2004. Na época, a promessa era que o capital chinês resolveria com facilidade os gargalos de infra-estrutura do Brasil. Mas os investimentos em estradas, ferrovias e portos ainda não se tornaram realidade. Esses aportes costumam ser polpudos e poderiam alavancar as discretas trocas de investimento entre os dois países, que giram em torno de US$ 300 milhões.

A mais comentada das operações conjuntas entre Brasil e China é a Baovale, joint venture entre a siderúrgica chinesa Baosteel e a mineradora brasileira Companhia Vale do Rio do Doce. O objetivo inicial era produzir 3,7 milhões de toneladas de aço em uma planta conjunta em São Luís, no Maranhão. Mas o projeto está parado. Procurada pelo Valor, a Vale informa apenas que a iniciativa continua em fase de estudo. A Baosteel não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pela reportagem.

"A China tem pressa em entrar na área de infra-estrutura, mas o Brasil ainda não fez o dever de casa", diz Paul Liu, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China. Ele afirma que as companhias chinesas estão interessadas em investir em estradas e ferrovias para reduzir os custos do escoamento das commodities brasileiras que tanto necessitam. Mas, para isso, é necessário que o Brasil definha regras claras e as taxas de retorno. "Até agora o Brasil não implementou as Parcerias Público Privadas (PPPs)", critica o executivo.

Na África, continente que também é rico em recursos naturais e mais pobre que a América Latina em infra-estrutura, os investimentos chineses estão mais adiantados. Para Liu, isso acontece porque na África as regras para participar das licitações são menos rígidas. "Quando a China faz um investimento, quer utilizar seus equipamentos, seu know-how, sua tecnologia", diz.

O embaixador do Brasil em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves, acredita que o investimento chinês em infra-estrutura é um processo lento, mas que começa a acontecer. "É algo novo na economia chinesa. A tendência é esse investimento aumentar e promover a integração da China na economia mundial", diz Castro Neves. Apesar de possuir mais de US$ 1 trilhão de reservas, a China investiu US$ 6,9 bilhões fora do seu território em 2005. (RL)