Título: Lula pede que parem de reclamar de juros e impostos
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou ontem os empresários a comparar a economia brasileira de hoje com o passado e a assumir parte da responsabilidade pelos problemas que apontam. Falando a uma platéia de executivos da indústria de autopeças, durante a abertura da Automec, feira do setor, ontem em São Paulo, Lula disse que, quando fala individualmente com os empresários, eles lhe contam que suas empresas vão bem, mas quando se juntam começam a pedir redução de juros e impostos.

O presidente evitou incluir no discurso a questão do câmbio, motivo da maior parte das queixas do setor produtivo nos últimos dias. Se referiu à valorização do real apenas ao lembrar quando os dirigentes de setores como a indústria automobilística reclamam. "Quando eles viram as costas e vou olhar na minha telinha, vejo coisas como recordes de exportação".

Segundo o presidente, "toda a vez que eu falo com um empresário individualmente, ele me diz coisas como 'minha empresa cresce 30% , está bombando´. Mas quando se juntam uns dez, começam a dizer que o governo precisa baixar os juros, os impostos. Como se não fizessem parte disso."

"Estamos no mesmo barco, por que não assumimos a culpa juntos?", disse Lula. Depois de dizer que na indústria automobilística existe "uma sintonia entre o mercado interno e o externo", acrescentou que sente orgulho de ver montadoras entendendo que carro não é só o de luxo. Ao elaborar esse raciocínio, o presidente trocou a palavra "aquisitivo" por "executivo", o que o levou a dizer que hoje se fazem automóveis também para o brasileiro com menor "poder executivo".

Ao se referir ao programa do carro com motor bicombustível, o presidente da República repetiu o termo usado pelos americanos - "flex fuel". E disse que "se o mundo tiver juízo", a tecnologia brasileira do automóvel que roda com álcool ou gasolina será usada até na Arábia Saudita.

Lula demonstrou sintonia com a mobilização que o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, tem feito para unir as indústrias de autopeças de todo o Mercosul, incluindo até o Paraguai. "O Brasil que sempre se sentiu subordinado" precisa ter a compreensão de que precisa crescer junto com os vizinhos."

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, que também participou da abertura da Automec, aceitou pedido de reunião feito pelos dirigentes do setor, que querem discutir com o governo formas de facilitar investimentos, principalmente nas pequenas e médias empresas, para atender ao crescimento da produção de veículos. Eles buscam linhas de financiamento do BNDES para garantir a aplicação de US$ 13,5 bilhões no setor em 15 meses.

Jorge lembrou do seu passado como executivo na indústria automobilística, época em que, segundo ele, o setor "derrapava em uma produção anual de 700 mil a 800 mil , um terço do volume do ano passado. Isso foi na véspera das chamadas câmaras setoriais, programas que, por meio de redução de impostos, de parte das margens de lucro das empresas e da promessa dos sindicalistas de não provocar greves, o setor conseguiu dobrar as vendas em um ano.