Título: Mulher ganha espaço em posições de chefia, mas salário continua menor
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Brasil, p. A4

A participação das mulheres no mercado de trabalho cresceu significativamente nos últimos anos. E, embora a maioria delas ainda ocupe cargos de baixa qualificação em empregos precários, o aumento do nível de escolaridade feminino tem permitido às brasileiras maior acesso a funções de chefia e a profissões consideradas mais prestigiosas.

Um estudo realizado pela professora Maria Cristina Aranha Bruschini, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, mostra que, entre 1993 e 2005, a quantidade de mulheres ativas - que estão no mercado de trabalho, sejam ocupadas ou não - passou de 28 milhões para 41,7 milhões. Com esse movimento, a porcentagem de mulheres no conjunto de trabalhadores avançou de 39,6% para 43,5%. Em contrapartida, a participação dos homens encolheu de 60,4% para 56,5%.

A queda na taxa de fecundidade das brasileiras, o surgimento de núcleos familiares menores e o envelhecimento da população, com o aumento de mulheres viúvas são alguns dos argumentos que explicam a maior participação feminina no mercado de trabalho. Além disso, a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades também viabilizaram o acesso ao emprego.

Pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2005, última informação disponível, 41,2% das mulheres brasileiras havia estudado pelo menos 11 anos. Ou seja, terminaram o ensino médio. Em 1995, esse percentual era de 24,6%. O crescimento da escolaridade também foi verificado para os homens, só que ocorreu em menor intensidade e eles continuaram menos escolarizados do que a população feminina. Há dois anos, 30,8% dos brasileiros tinham o ensino médio completo, enquanto que em 1995 esse percentual era de apenas 17%.

Essa maior escolaridade tem rendido às mulheres espaço em carreiras consideradas de maior prestígio. Considerando apenas os dados de emprego com carteira assinada do Ministério do Trabalho, em 2004 a participação feminina na ocupação de médicos, por exemplo, era de 41,3%, acima dos 36,3% registrados em 1993. Na advocacia, o crescimento também foi expressivo: de 35,1%, as mulheres passaram a representar 45,9% do total de advogados brasileiros.

O número de executivas em cargos de chefia também apresentou mesma trajetória positiva. Em 2000, 24% dos cargos de diretoria em empresas do setor formal eram ocupados por mulheres. Quatro anos depois, esse total pulou para 31%. "No entanto, embora as mulheres estejam ocupando mais essas posições, ainda existe discriminação e seus salários são menores do que os dos homens que exercem funções semelhantes", explica a professora Maria Cristina. Isso só não ocorre no setor público, onde há eqüidade entre os salários.

Apesar da melhora na qualidade do emprego feminino, as brasileiras seguem, majoritariamente, trabalhando em condições precárias e em funções de baixa qualificação. Em 2005, 33% da força de trabalho feminina, o equivalente a 12 milhões de mulheres, estava no que a pesquisadora classifica como nichos precários no mercado de trabalho. Mais da metade delas, 6,2 milhões, eram trabalhadoras domésticas. Outras 3,3 milhões faziam atividades não-remuneradas e mais 2,7 milhões produziam para o consumo próprio ou de suas famílias.

"Fica claro que as mulheres tiveram, sim, algum progresso no mercado de trabalho, mas muitas condições desfavoráveis, várias delas derivadas do preconceito, ainda permanecem", completa Maria Cristina.