Título: PT reforça dízimo para pagar dívida
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Política, p. A5

Com uma dívida de mais de R$ 40 milhões, o PT quer fechar o cerco contra os funcionários comissionados que não estão em dia com o pagamento do "dízimo", para aumentar a arrecadação e chegar às eleições municipais de 2008 com uma situação financeira mais tranqüila. O Diretório Nacional reforçará nos Estados a cobrança sobre o salário dos comissionados que trabalham em autarquias e entidades do governo federal nos Estados, como os Correios e as Delegacias Regionais do Trabalho.

Segundo o tesoureiro do PT gaúcho, Rodrigo Campos, a dívida dos comissionados petistas inadimplentes no país chega a R$ 30 milhões - 75% do total do saldo negativo da legenda. O saldo negativo do partido é composto por cerca de R$ 9 milhões de restos a pagar da campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por mais R$ 35 milhões contraídos em empréstimos pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. A esses valores, soma-se um leasing de R$ 20 milhões.

Ontem, o secretário nacional de Finanças, Paulo Ferreira, e os tesoureiros estaduais reuniram-se em Brasília para discutir as formas de aumentar a arrecadação partidária. Os tesoureiros ficaram encarregados de reforçar a cobrança e renegociar a dívida. "Às vezes temos um 'afrouxamento' na cobrança", relatou o secretário de finanças do diretório paulista, Antonio dos Santos. "Temos de fazer com que todos contribuam", disse. A princípio, o controle financeiro ficará sobre os próximos pagamentos, mas os tesoureiros deverão cobrar o parcelamento do valor que está atrasado, sem o pagamento de multas ou juros. "O número de comissionados contribuintes é muito pequeno", afirmou o tesoureiro gaúcho. "Não chega a dois mil, menos da metade dos 4 mil comissionados que estão filiados ao partido", apontou. No Rio Grande do Sul, por exemplo, cerca de 150 comissionados trabalham em autarquias do governo federal no Estado.

De acordo com o estatuto petista, os funcionários comissionados filiados ao partido devem pagar de 2% do salário (aqueles que ganham até seis salários mínimos) até 10% (para aqueles com salário superior a 20 mínimos).

Os tesoureiros estaduais discutiram também as propostas de alteração do Estatuto do PT, que devem ser votadas no Congresso da legenda, em meados deste ano. O tema mais reforçado é a cobrança do dízimo sobre a "verba-paletó", ou seja, recursos como verba de gabinete e ajuda de custo. A porcentagem cobrada deverá ser menor do que os 20% sobre o salário bruto, mas "não deve ser menor do que 10%", explicou Campos.

A situação geral dos diretórios nos Estados não é de equilíbrio e os dirigentes querem engrossar o caixa com a cobrança dos comissionados nas Assembléias, Câmaras Municipais e prefeituras. O dízimo dos deputados federais vai diretamente para o PT nacional. "Em cada gabinete de deputado estadual, cerca de 15 funcionários são comissionados. Temos 20 deputados na Assembléia de São Paulo. Os recursos poderão aumentar", disse o tesoureiro paulista.

A maior parte das dívidas estaduais é resultado de campanhas eleitorais passadas. No Rio Grande do Sul, a campanha para o governo do Estado deixou uma dívida de cerca de R$ 2 milhões, reduzida neste ano em R$ 200 mil. O município de Porto Alegre ainda tem um caixa negativo de R$ 3 milhões, da campanha pela prefeitura do município, em 2004. Para tentar amenizar a situação, o diretório gaúcho cobra um dízimo à parte do que já é cobrado pelo PT nacional. Cada deputado federal petista paga pelo menos R$ 1,9 mil ao diretório nacional e os gaúchos têm de pagar outros R$ 800 ao estadual. "Montamos uma comissão política para conversar com os empresários e obter doações. Queremos saldar nossa dívida até o final do ano", disse Campos.