Título: PT veta aliados em vagas criadas na Caixa
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2013, Política, p. A5

O PT aproveitou a reforma administrativa aprovada pelo Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal para ampliar sua influência no banco estatal. Vetou indicações de aliados para novas áreas e corre para indicar um nome ligado ao partido para uma nova vice-presidência, a de habitação.

A partir de sugestões da consultaria Mckinsey, foram tomadas três medidas que reformulam a estrutura de algumas vice-presidências. A primeira medida cria a vice-presidência de habitação, área a ser desmembrada da vice-presidência de Governo; a segunda medida acrescenta a área de infraestrutura à vice-presidência de governo, que passa a se chamar vice-presidência "de governo e infraestrutura"; e a terceira medida é a transformação da vice-presidência de pessoa física em vice-presidência de negócios emergentes.

Para a nova área de habitação, o PT articula a nomeação da secretária de habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães. Petista, é ligada à ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Já José Urbano Duarte, atual vice-presidente de governo, ampliará poderes com a extensão de sua área de atuação para "governo e infraestrutura". Ele é funcionário de carreira do banco e ligado ao presidente, o petista Jorge Hereda. Fábio Lenza, atual vice de pessoa física e também homem de Hereda na estrutura interna, também ampliará sua área de atuação em "negócios emergentes".

Fontes do banco e do PT afirmam que a reformulação tem lá um respaldo administrativo, mas que o viés político é claro: aumentar a influência do PT na estrutura da Caixa. Nas contas do partido, das 11 vice-presidências existentes hoje, o PMDB tem vinculação com quatro delas: fundos de governo e loterias, ocupada por Fábio Cleto, indicado do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); e pessoa jurídica, nas mãos do ex-ministro da Integração Nacional e ex-deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Ambos são o canal direto dos pemedebistas no banco.

Em outros dois departamentos, a vice-presidência de gestão de pessoas, comandada por Sergio Pinheiro Rodrigues, e pessoa física, chefiada por Fábio Lenza, há uma influência externa do PMDB menor, mas ainda assim muito forte: os dois são ligados ao senador José Sarney (PMDB-AP). Ou seja, para os petistas, o PMDB tem sim muito espaço no banco.

Ocorre que, no restante da cúpula da Caixa, toda a influência é petista. O vice-presidente de finanças, Márcio Percival Alves, é ligado ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), mas hoje é bancado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega; Marcos Vasconcelos, de ativos de terceiros, tem ligações com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, do PT paranaense. O restante são funcionários de carreira ligados a Hereda, que, por sua vez, possui ligações com a ministra da Cultura, Marta Suplicy.

A ideia original de setores do governo era, com a reforma, poder aumentar espaços para abrigar mais aliados no banco, em especial o PSD. Mas os petistas ligados à Caixa abortaram esse movimento e produziram uma reforma que aumenta seu poder. Nesse processo, o PMDB reagiu contra o avanço em suas áreas e reverteu parte do processo contra si. A vice-presidência de Geddel, por exemplo, ganhou a área de crédito rural.