Título: Nome escolhido indica que Igreja terá novo rosto, diz Leonardo Boff
Autor: Meichtry, Stacy; Luhnow, David; Parks, Ken
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2013, Internacional, p. A15

Com base na origem do novo papa, na escolha do nome Francisco e na postura do pontífice em sua primeira aparição pública o teólogo e ex-frade franciscano Leonardo Boff, um dos fundadores da teologia da libertação, disse ao ValorPRO, serviço noticioso em tempo real do Valor, que, na sua opinião "a Igreja vai ter um novo rosto porque senão ele não teria escolhido o nome Francisco". Para Boff, dada a importância de São Francisco de Assis como um símbolo de humildade, fraternidade e de amor aos pobres, "Francisco não é um nome, é um programa".

Boff, que pediu desligamento do sacerdócio em 1992 sob ameaça de punição, considerou fundamental que ao aparecer pela primeira vez em público como papa, o cardeal argentino Jorge Bergoglio, agora Francisco, tenha, no seu entendimento, dado "centralidade ao povo e não à hierarquia", deixando que primeiro o povo abençoasse o papa para depois o papa abençoar o povo. Agindo assim, para ele, o papa seguiu "os princípios do Concílio Vaticano II" (1961), conhecido como aquele que liberalizou os princípios conservadores da Igreja Católica.

Sempre se apoiando no simbolismo do nome escolhido pelo novo papa, Boff disse que espera a partir de agora "uma igreja simples, voltada para os pobres, sem espetacularização da fé". Na sua opinião, as primeiras tarefa de Francisco serão de "resgatar a credibilidade da Igreja", desgastada por escândalos como o da pedofilia, e resolver os conflitos da Cúria Romana. O teólogo acha também que Francisco deve descentralizar a gestão da Igreja, dando força ao Sínodo dos Bispos (trianual) e respeitando as características locais da Igreja Católica.

De ponto de vista da origem do novo papa, Boff comemorou o fato de pela primeira vez o sumo pontífice dos católicos ser originário do Terceiro Mundo (Argentina). "Já era tempo. O Terceiro Mundo reúne 60% dos católicos, enquanto a Europa responde por apenas 24%", enfatizou. O teólogo disse que as igrejas "da periferia" adquiriram características próprias e não são mais "igrejas-espelho da Europa".

Por causa da imagem de simplicidade do novo papa e da perspectiva de opção por um papado simples e não por "uma autoridade faraônica que fica lá em cima", Boff comparou Francisco a um "João XXIII periférico", referência ao papa que liderou a Igreja Católica de 1958 a 1963 e foi responsável pela convocação do Concílio Vaticano II.