Título: Eleito fortalecerá ordens religiosas, diz teólogo
Autor: Meichtry, Stacy; Luhnow, David; Parks, Ken
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2013, Internacional, p. A15

O novo papa Francisco, cardeal Jorge Mario Bergoglio, deve promover o fortalecimento de todas as ordens religiosas ligadas à Igreja Católica, na análise do decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) da PUC-Rio, o professor e teólogo Paulo Fernando Carneiro de Andrade. Para o especialista, doutor em Teologia pela Pontificia Universidade Gregoriana de Roma, essa provável postura decorrerá do fato de o novo pontífice ser um jesuíta.

"É importante destacar isso. Nunca antes na história tivemos um papa jesuíta", frisou o especialista. Na avaliação dele, a experiência do novo papa como jesuíta e sua proximidade com a Companhia de Jesus deve conduzir a uma nova postura da Igreja em relação às ordens. "Isso pode ajudar a valorizar as ordens religiosas, de uma maneira nunca antes vista", avaliou. Andrade.

Outro grande desafio do escolhido também será o de efetuar uma profunda reforma na Cúria Romana, na análise de Andrade. Para o professor, a necessidade de uma mudança na Cúria é grande herança deixada pelo Papa Bento XVI. "Essa é a maior expectativa em torno do novo papa", avaliou.

No último mês, especialistas em assuntos do Vaticano consideraram que dissensões na Cúria conduziram à renúncia de Bento XVI. O novo Papa deve estar atento a isso, avaliou o teólogo, e assim deve efetuar mudanças para que sua gestão não seja afetada por disputas dentro da Cúria.

A renúncia de Bento XVI torna o atual cenário da Igreja Católica único em toda a história dessa religião. Isso porque será a primeira vez que um papa a governará com seu antecessor ainda vivo. Mas para o professor, isso não deve diminuir em a autoridade de Francisco I, durante sua gestão. Isso porque, lembrou o especialista, o próprio o Cardeal Joseph Ratzinger já deu mostras de que iria se voltar para uma vida de oração e reclusão, após renunciar seu papado em fevereiro desse ano. "Não acredito que Ratzinger será uma sombra do novo papa", resumiu.

As maneiras simples e humildes de Francisco I, em seu primeiro discurso nesta quarta-feira sinalizam qual pode ser a postura do novo papa em seu papado. Para o teólogo, em um primeiro momento, as primeiras palavras do cardeal argentino tornam seu perfil muito similar ao do papa João XXIII, o "Papa Bom" cujo papado foi de 1958 a 1963. Esse papa, lembrou, foi um dos de maior renome na Igreja Católica, por sua postura humilde e voltada para os pobres e a caridade. "Ele se apresentou como o Bispo de Roma, que governa outras igrejas à caridade", salientou, observando que, enquanto cardeal, ele sempre foi um religioso de hábitos simples. "Em Buenos Aires, viveu de maneiras simples, morado em um apartamento modesto e tomando ônibus para ir ao trabalho", acrescentou. Para ele, sua vida pregressa, e suas primeiras palavras como papa, indicam que ele dará maior ênfase às questões sociais e ao cuidado aos pobres do que seu antecessor.

O fato de a escolha ter demorado apenas dois dias indicou, ainda, que já haveria consenso prévio em torno do nome do cardeal argentino, na avaliação do professor. Segundo ele, Bergoglio foi o segundo mais votado no conclave que elegeu Ratzinger em 2005. Ou seja: o novo papa já seria, há anos, favorito de vários cardeais participantes do conclave.