Título: Escolha de latino revigora a Igreja, avalia CNBB
Autor: Meichtry, Stacy; Luhnow, David; Parks, Ken
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2013, Internacional, p. A15

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) avaliou ontem que a escolha do cardeal argentino Jorge Bergolino Mario como o novo papa "revigora" a Igreja Católica ao "fazer discípulos entre todas as nações" e leva à Cúpula Romana a "experiência evangelizadora da igreja latino-americana e caribenha".

Em nota pública, a CNBB disse que a igreja no Brasil dará todo apoio ao papa Francisco. O documento foi assinado pelo vice-presidente da entidade e arcebispo de São Luís (MA), dom Belisário José da Silva, e pelo secretário-geral e bispo auxiliar de Brasília, dom Leonardo Ulrich Steiner.

Ao conceder entrevista coletiva em Brasília, dom Leonardo Steiner afirmou que a eleição do cardeal argentino foi recebida com "surpresa", mas comemorou a decisão. "A escolha de um latino-americano vem mostrar que a Igreja se abre. Não é mais uma Igreja só voltada para a Europa", declarou.

O religioso defendeu mais agilidade para a Igreja resolver denúncias de corrupção e de pedofilia e disse que o novo papa deverá ter "transito mais livre" para resolver esses problemas. "Certamente o novo papa buscará também tornar a Igreja mais ágil, mais presente e, talvez, sugerirá alguma reforma na Cúria", afirmou. O secretário-geral da CNBB elogiou ainda a escolha do nome do papa, por simbolizar a simplicidade. "Francisco, um homem de Deus, um homem simples, um homem que soube cantar o amor de Deus. Se souber cantar o amor de Deus, estaremos muito satisfeitos e realizados", disse.

O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, avaliou que a escolha o novo papa trará o foco da Igreja mais para evangelização. Orani afirmou que o papa Francisco sempre se preocupou em Buenos Aires, onde era arcebispo jesuíta, com a evangelização da população. " Jesuítas e franciscanos são evangelizadores, têm vitalidade física", disse ontem, em entrevista coletiva.

Em 2006, Francisco foi um dos redatores da carta de Aparecida, documento apresentado pelos bispos da America Latina e Caribe, durante o encontro realizado em São Paulo. "O texto conclama os católicos a uma missão evangelizadora mais audaciosa. A mudar o modo de trabalhar. Não esperar que o povo venha a Igreja e sim a Igreja vá ao povo", lembrou o bispo auxiliar do Rio, Dom Antonio Augusto, que participou do evento.

O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, disse que, apesar da postura conservadora que o novo papa adotou na Argentina, ele deverá conduzir a revolução cobrada à Igreja Católica. "A igreja está se abrindo ao continente onde tem a maior população de católicos do mundo. Estamos esperançosos de que a igreja se renove, que procure assumir novos passos com a contribuição deste homem que agora está à frente de nossa igreja."

Dom Fernando Saburido chamou a atenção para a idade do papa Francisco, 76 anos, e disse que o poderá ser um "papa de transição". "É possível que isso [não conseguir chegar até o fim no comando da igreja] aconteça também. Mas não podemos já prever algo assim. Vamos dar tempo ao tempo para ver como ele vai se conduzindo. Se os cardeais o escolheram é porque ele está bem do ponto de vista físico", afirmou.