Título: Paralisia domina ambiente de negócios no país
Autor: Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2013, Internacional, p. A13

A campanha presidencial criou um clima de paralisia no ambiente de negócios da Venezuela, num momento em que o país vive incertezas em relação à inflação, à taxa de câmbio e ao crescimento da economia. A boa notícia, para empresários e investidores, é que a disputa será curta. Por outro lado, a futura administração do provável sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, ainda é tratada como uma relativa incógnita por analistas. Mesmo assim, o governo brasileiro continua vendo a Venezuela como uma oportunidade para as empresas nacionais.

O Poder Eleitoral venezuelano marcou a eleição para 14 de abril, depois que o presidente Hugo Chávez morreu na última semana sem tomar posse. Chávez permaneceu no poder por 14 anos e estreitou as relações com o Brasil durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Seu vice e atual presidente do país em exercício, Nicolás Maduro, é o candidato oficialista. Já o principal candidato da oposição é mais uma vez Henrique Capriles.

Num sinal de qual deve ser a sua prioridade nos próximos dias, Maduro destacou grande parte da cúpula do governo e do Parlamento para integrar a coordenação de sua campanha. "Está tudo parado", lamentou ao Valor uma autoridade brasileira que acompanha de perto o país vizinho.

Para o diretor da consultoria venezuelana Ecoanalítica, Asdrúbal Oliveros, pode-se esperar para depois das eleições mudanças no sistema cambial do país, aumento de impostos e uma alta dos subsidiados preços da gasolina. Ele afirmou que Maduro precisará agir com pragmatismo na economia, além de ter que manejar as diversas divisões existentes entre os políticos chavistas e grupos militares.

"O problema para o setor privado neste ano é o acesso a divisas", afirmou Oliveros. "Estamos em campanha e isso faz o governo adiar medidas econômicas. Mas isso não vai durar muito, porque a campanha é muito curta."

Na Venezuela, o câmbio é controlado pelo governo. A taxa oficial é de 6,30 bolívares por dólar, mas a variação do índice no mercado paralelo dá uma ideia dos efeitos das incertezas políticas e do aumento da procura pela moeda americana. Logo após a morte de Chávez, era possível trocar a moeda norte-americana nas ruas de Caracas por 20 bolívares. Nos últimos dias, contudo, quem quis vender US$ 1 no mercado paralelo chegou a obter até 25 bolívares.

A expectativa de economistas é que a desvalorização da moeda acelere a inflação no país devido ao aumento dos preços dos produtos importados, apesar de o governo local controlar ou subsidiar o preço de diversos artigos, provocando um impacto negativo sobre o crescimento econômico. Segundo Oliveros, a inflação deve chegar a 30% em 2013. No ano passado, registrou alta de 20%. Já o crescimento do Produto Interno Bruto deve desacelerar de 5,6% para cerca de 1% no período, acrescentou o economista. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma alta do PIB da Venezuela de 3,3% e uma inflação de 28,8% neste ano.

Oliveros também prevê que os problemas de abastecimento do país perdurarão. Apesar de não ser uma questão crônica, sobram relatos pelas ruas de Caracas sobre a falta de produtos como açúcar, leite, papel higiênico e detergente. Mas moradores da capital venezuelana asseguram que uma pequena dose de persistência garante ao comprador qualquer produto em duas ou três tentativas.

Nesta semana, por exemplo, não faltava nenhum produto nas prateleiras de um supermercado localizado num bairro nobre de Caracas - região que eventualmente também sofre com a falta de oferta de determinados produtos de consumo. "A escassez não vai desaparecer agora, mas não é generalizada", assegurou o diretor da consultoria Ecoanalítica.

O país vizinho garante ao Brasil seu terceiro maior superávit comercial. Desconsiderando a Holanda, que serve de porta de entrada de produtos brasileiros para diversos países europeus, perde apenas para a China. Além disso, a Venezuela oferece a construtoras brasileiras e companhias prestadoras de serviços outras inúmeras chances de negócios.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem uma missão em Caracas e trabalha, por exemplo, no potencial da integração produtiva entre Brasil e Venezuela, uma das principais demandas do governo venezuelano nas relações bilaterais. Algumas das potencialidades já identificadas pelo órgão estão na indústria naval fluvial, na indústria petroquímica e na produção de fertilizantes. A Caixa Econômica Federal e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também mantêm projetos de cooperação com a Venezuela.

O governo brasileiro acredita que o desenvolvimento do parque industrial venezuelano abre um mercado para as indústrias brasileiras de máquinas e equipamentos. Outros setores também têm se posicionado no comércio bilateral, como os exportadores de grãos, produtos de confeitaria, colas, metais não ferrosos, têxteis, ferramentas, higiene pessoal, cosméticos, aparelhos de ótica, autopeças, leite e derivados, massas alimentícias, móveis, papel, plástico, cerâmica, produtos químicos e farmacêuticos, ferro, aço e vidro.

E o governo brasileiro vê potencial para os exportadores de animais vivos, aparelhos domésticos, aparelhos de telecomunicações, aquecedores, joias, compressores, computadores, madeira, materiais elétricos, fios de algodão, máquinas agrícolas e de processamento de alimentos e bebidas, material esportivo, motocicletas, óleo de soja, partes de calçados, pilhas e refrigeradores. Na área dos serviços, além do setor de construção, o governo brasileiro identificou oportunidades para as empresas dos segmentos de transportes, distribuição e vendas, energia, turismo, consultoria empresarial, telecomunicações, serviços financeiros e companhias ligadas a atividades fabris, como design industrial ou manutenção de máquinas.