Título: Brasil planeja ajuda a Maduro após as eleições
Autor: Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2013, Internacional, p. A13

O governo brasileiro, preocupado com os problemas a serem enfrentados pelo próximo governo na Venezuela, está disposto a oferecer cooperação em ações contra o desabastecimento e a violência e na atração de investimentos, segundo informou a presidente Dilma Rousseff, acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, ao embaixador venezuelano no Brasil, Maximilien Arvelaiz, ao se encontrarem, em Caracas, para o funeral do presidente Hugo Chávez.

Arvelaiz, por muito tempo assessor direto, amigo e confidente de Chávez, esteve com Dilma, Lula e Patriota na casa do embaixador brasileiro na Venezuela, José Antônio Marcondes de Carvalho. Conversaram por quase três horas, enquanto Dilma esperava o momento de ir ao funeral de Chávez. O governo brasileiro compartilha da avaliação generalizada entre os analistas de que será eleito o atual vice-presidente, Nicolás Maduro, candidato do chavismo apontado pelo próprio presidente Hugo Chávez, meses antes de morrer de câncer.

Na avaliação das autoridades brasileiras, as principais ameaças à provável administração de Maduro são três: o desabastecimento, provocado pelos gargalos de fornecimento no país, fortemente dependente de importações; a violência, fomentada pela corrupção policial; e a dificuldade de escapar às distorções de uma economia fortemente sustentada pela produção e exportação de petróleo. Com especialistas brasileiros e apoio de instituições como o Ipea e a Embrapa, que têm escritório em Caracas, o governo brasileiro gostaria de atuar com o futuro governo venezuelano para evitar que se agravem os problemas não resolvidos durante os 14 anos da gestão de Chávez.

Brasil e Venezuela já têm uma experiência de cooperação, por meio da Caixa Econômica Federal, que ajudou Chávez a enfrentar o crônico déficit de residências e lançar o programa Misión Viviendas, no modelo do Minha Casa, Minha Vida brasileiro. O esquema poderia ser replicado em outros terrenos onde o Brasil tem modelos bem-sucedidos, como o das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), exemplifica uma fonte graduada do governo.

Arvelaiz, cientista político e ativista, de origem francesa, foi recém-nomeado para o comitê de campanha de Maduro, como responsável pelas relações internacionais do candidato. Durante o governo Lula, antes de assumir a embaixada em Brasília, desempenhava papel semelhante ao exercido no Brasil pelo assessor internacional Marco Aurélio Garcia, e foi um elo de ligação entre Chávez e o Palácio do Planalto. Na conversa com o chavista não foram apresentadas propostas concretas para o apoio brasileiro, e ficou claro que Dilma não vai ao país durante a campanha eleitoral, em março e abril.

A confirmação de Arvelaiz no núcleo político da campanha de Maduro assegura, para o governo brasileiro, uma ponte de confiança com o candidato chavista. Amigo do ex-presidente do PT José Dirceu, "Max", como é conhecido em Brasília, levou o petista a Caracas, no começo de 2012, para opinar na campanha pela reeleição de Chávez. Dessas conversas saiu um Chávez mais conciliador, no estilo que seria burilado pelo marqueteiro brasileiro João Santana, responsável pela campanha vitoriosa no ano passado.

Simpático ao Brasil, Maximilien Arvelaiz foi atacado pela oposição brasileira por estar presente em um ato de apoio a Dirceu. Negou estar no evento na condição de ativista e tem sido um dos maiores entusiastas da entrada da Venezuela no Mercosul. "Nossa prioridade será a de aproveitar essa extraordinária oportunidade para reordenarmos o processo de diversificação da economia na Venezuela", disse Arvelaiz sobre o Mercosul, em entrevista ao próprio Dirceu, no blog mantido pelo petista. "O tema da petroquímica, agora com o Brasil, abre muitas oportunidades", previu. "A Venezuela pode fornecer ao Brasil tudo o que país necessita de fertilizantes."