Título: Oferta de moeda e risco-país em queda tiram espaço para BC atuar no câmbio
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Finanças, p. C2

A forte valorização do real em relação ao dólar vista nos últimos meses é fruto da queda do risco-país e dos bons fundamentos da economia segundo os bancos. De acordo com o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, a queda do dólar ocorre em função do saldo positivo na balança comercial, queda do risco-país e perspectivas positivas de crescimento.

"A oferta abundante de dólar é um aspecto positivo", afirmou durante a cerimônia de posse. Para ele, não há espaço para o Banco Central "segurar" o câmbio.

Nos três primeiros meses do ano, as compras de dólares por parte do BC elevaram as reservas internacionais em mais US$ 22 bilhões. O volume, no entanto, foi superior às entradas líquidas de divisas, na casa dos US$ 17 bilhões. Mesmo enxugando todo o fluxo de moeda estrangeira, a cotação do dólar caiu 3,6% no período.

Devido a essa diferença, alguns analistas consideram que operações no mercado de derivativos, usando dólar sintético, são responsáveis por essa cada. Essas operações são possíveis devido às elevadas taxas de juros, que permite arbitragens com o diferencial da taxa real. Mas essa visão não é compartilhada pelo economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros.

"A força dominante da queda não está nas operações de arbitragem", afirma o economista. Segundo ele, existe forte correlação entre o câmbio e a queda do risco-país, que atingiu ontem novo piso histórico ontem, de 156 pontos-base.

Para Gabriel Jorge Ferreira, do Unibanco, "a compra de divisas visou evitar que a taxa de câmbio desabasse ainda mais nos momentos de normalidade, permitindo que nossas reservas chegassem a mais de US$ 100 milhões". Ele ainda completou que a persistir o ritmo de acúmulo, "até 2009 a divida externa, líquida de reservas internacionais, terá se tornado nula". Essa redução ocorre, mas a dívida total se eleva, visto que o BC compra títulos para esterilizar as reservas.

Barbosa lembrou que esta cotação prejudica alguns agentes econômicos e beneficia outros, mas que este problema não tem solução simples. "Essa situação é conseqüência de uma economia que cresce e acessa o mercado externo e o BC tem feito o que deve para pavimentar o crescimento sustentado", avalia.

E a perspectiva de redução do real frente ao dólar se mantém. Barros ainda trabalha com a cotação da moeda americana em R$ 2,05 para o final do ano, mas não descarta uma queda ainda maior. "É bastante possível que a cotação atinja R$ 1,95 no fim do ano", avalia. O mesmo valor também já é considerado pelo economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli.

Essa queda, no entanto, não deve forçar uma mudança na política monetária do BC. O presidente do banco, Henrique Meirelles, afirmou que a política visa assegurar o melhor funcionamento do mercado de câmbio e proporcionar para as empresas possibilidades de expandir a atuação no mercado internacional.

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, concorda com o diagnóstico e enfatiza que as empresas têm buscado elevar a eficiência para manter mercado. Segundo ele, a política consistente para impedir a volta da inflação é muito importante. Estudo da área econômica do Bradesco mostrou que a inflação nos últimos 45 anos atingiu quatro quatrilhões, a maior do mundo.

Dessa forma, a expectativa para a taxa básica de juros se mantém conservadora. Barros espera uma taxa no fim do ano de 11,25% ao ano, com possibilidade de atingir 9,75% ao ano no fim de 2008.