Título: Cartão pode chegar a mais 70 milhões, diz pesquisa
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Finanças, p. C3

O mercado de cartões de crédito, que deu uma ligeira desacelerada nas taxas de crescimento no primeiro trimestre, ainda tem muito espaço para se expandir. Ao menos 70 milhões de brasileiros, que teriam condições de obter um cartão de crédito, ainda não possuem o plástico. Esse mercado ainda inexplorado tem condições de movimentar R$ 16 bilhões por mês, segundo pesquisa da consultoria Condere.

A grande maioria das pessoas (96%) sem cartões pertencem às classes C, D e E. Entre os mais ricos, principalmente na classe A, o mercado já está saturado e praticamente não há como ganhar novos clientes. Na classe B, ainda há 2 milhões de pessoas, segundo a pesquisa.

Para chegar a estes números, a Condere levou em conta a população economicamente ativa e dados de renda e consumo da população brasileira disponibilizados pelo IBGE.

A principal conclusão da pesquisa é que o maior mercado potencial para os cartões são as classes C e D, com destaque para a primeira. Juntas, elas contam com 15 milhões de pessoas sem o plástico com potencial para movimentar R$ 8 bilhões mensais (R$ 5 bilhões apenas na classe C).

Os principais bancos e emissores de cartões já se voltaram para o mercado da baixa renda para tentar expandir o número de cartões de crédito. A abordagem, porém, vem sendo feita de forma errada, avalia Paulo Muniz Barreto Cury, sócio da Condere e autor da pesquisa.

A avaliação do Cury é que alguns emissores tratam de maneira igual as classes C e D. "É o segmento onde há mais mercado para crescer, mas ainda é muito incompreendido", avalia. "São mercados muitos diferentes, que exigem produtos segmentados", avalia. Um dos diferenciais, por exemplo, é que a classe D tende a parcelar mais as compras que as pessoas da classe C, uma classe já mais bancarizada que a anterior.

Já a classe E tem média de gastos muito baixa que não compensaria os investimentos altos necessários para chegar aos consumidores. Com isso, fica sendo pouco rentável para os bancos.

O mercado de cartões de crédito tem 30 milhões de usuários, que movimentam R$ 11 bilhões por mês. A classe A, com 900 mil pessoas, movimenta R$ 1,1 bilhão, ou 10% do mercado. A classe E, com 51% dos usuários, movimenta R$ 2 bilhões. O destaque é a classe C, com 20% dos usuários, e responsável por 38% do faturamento do setor.

Segundo a pesquisa da Condere, em média, 42% dos gastos das classes C, D e E são pagos com cartões de crédito. Na classe A esse percentual cai para 10% e na B fica em 20%.

Outra descoberta da pesquisa é que o financiamento dos gastos com cartão vem caindo e tende a continuar em baixa. Em 2005, a relação entre o que era gasto e o que era financiado foi de 1,40, ou seja, de cada R$ 1 faturado pelo setor, R$ 1,40 era financiado. "Tinha mais financiamento que faturamento no setor", avalia Cury.

Em 2006, esta relação caiu para 0,75 e a estimativa da Condere é que, em 2011, seja de 0,5. A principal explicação para essa queda são as novas alternativas de empréstimos, com destaque para o crédito consignado, com taxas menores que a do crédito rotativo do cartão.

Se para os consumidores, juros menores são sempre melhores, para o mercado de cartões, a queda do rotativo representa perda de receita importante. Cury estima que de 60% a 70% das receitas com cartão venham dos juros do crédito rotativo.

Para Cury, o principal desafio das empresas de cartão é uma melhor segmentação de produtos para a chamada baixa renda, com cartões diferentes para cada nível de renda. Ele acredita ainda que as redes de varejo tendem a ser um canal cada vez mais importante para se chegar a esse mercado e que os correspondentes bancários ainda são muito pouco explorados para a venda de cartões.