Título: Tombini fala sobre inflação e juros reagem com alta na BM&F
Autor: Oliveira, João José; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2013, Finanças, p. C2

Declaração de Tombini sobre a resiliência da inflação agitou o mercado e pressionou as taxas de juros futuros

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, falou ontem, durante seminário promovido pelo Banco Nacional da Polônia, em Varsóvia, sobre economia e inflação, em pleno período de silêncio que a autarquia costuma respeitar por causa da divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), programada para amanhã. Sua fala acabou por provocar alta generalizada das taxas de juros negociadas no mercado futuro.

A inflação "foi muito resiliente desde a segunda metade do ano passado e continua sendo", disse Tombini, segundo a "Bloomberg". A nova classe média emergente brasileira "pressionou a economia", completou.

Em meio à reação do mercado, que respondeu rapidamente com alta à informação sobre o discurso de Tombini, a assessoria de imprensa do Banco Central entrou em campo para esclarecer que os comentários feitos pelo presidente da autarquia referiam-se à inflação nos setores de serviços e alimentos, não à dinâmica geral dos preços.

Mas essa explicação teve efeito marginal sobre a percepção dos investidores, que estranharam antes de tudo a opção do presidente do BC em tecer comentários sobre inflação em semana de ata do Copom. "Não é usual o BC se manifestar às vésperas da ata do Copom, o que ajuda a explicar as reações exageradas do mercado", disse um operador.

As taxas de juros projetadas nos contratos da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) começaram a subir de forma acelerada assim que a informação sobre o conteúdo da fala de Tombini chegou ao mercado brasileiro, ainda na manhã de ontem, e acabaram por fechar nos maiores patamares em seis meses.

Entre os contratos mais negociados na BM&F, o Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 subiu de 7,83% para 7,90%, atingindo o maior nível em seis meses. O DI de janeiro de 2015 avançou a 8,62%, de 8,54%. E o contrato com prazo em janeiro de 2017 foi de 9,22% a 9,30%.

Tradicionalmente, nenhum integrante do BC faz comentários sobre quaisquer temas nos dias que separam o encontro do Copom da divulgação da respectiva ata da reunião, como forma de evitar especulações no mercado - regra quebrada ontem por Tombini. No slide número 7 da exposição feita na Polônia - de uma apresentação em inglês, composta por 26 páginas - apareceram quatro tópicos. O primeiro deles era: "Inflação - inflação resiliente nos últimos meses" (em tradução literal).

No slide seguinte, dedicado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), duas linhas foram destacadas: a que trata da inflação de alimentos e bebidas, que atingiu 12,5% no acumulado em 12 meses até fevereiro, e a que aborda o setor de serviços, com variação de 8,7%.

A volatilidade gerada no mercado de juros futuros contaminou ainda o segmento de títulos públicos. No tradicional leilão de Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), papéis atrelados à inflação por meio do IPCA, o Tesouro conseguiu colocar menos de um terço do lote que havia programado para ontem.

De uma oferta máxima de 800 mil títulos, foi colocado um total de 228,15 mil papéis. Segundo operadores, o mercado se encolheu com os repiques das taxas de juros projetadas nos contratos DI na BM&F. E ante a incerteza e a volatilidade, os investidores pediram prêmios maiores - que o Tesouro não quis sancionar.

A reação do mercado foi intensa também por causa do contexto formado por política monetária incerta e inflação resiliente, disse o gerente de tesouraria de um banco de médio porte.

O Banco Central acabou de alterar o perfil do comunicado pós-Copom. Abandonou a defesa de uma política monetária estável por um longo período e adotou a estratégia de agir conforme a apuração dos dados econômicos. Enquanto isso, o governo tenta esvaziar pressões inflacionárias por meio da desoneração de itens do IPCA, como a energia e, mais recentemente, a cesta básica - uma linha de ação que tem críticos entre economistas.

Os economistas do HSBC Constantin Jancsó e Sabrina Andrade, por exemplo, admitem que a desoneração da cesta básica pode tornar o IPCA até 0,40 ponto percentual mais baixo. Mas essa redução vai apenas compensar outras pressões que se materializaram neste ano. O banco projeta para este ano um IPCA de 5,50%.

Já para o sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, mesmo que haja transmissão para os preços no varejo, esse tipo de impacto não altera a dinâmica da inflação.

(Com Bloomberg, de Varsóvia)