Título: Diretor-gerente diz que risco global está menor
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Finanças, p. C12

Os riscos que ameaçam a economia mundial ficaram menores nos últimos meses, na avaliação do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato. "Não acho que os riscos sejam maiores do que há seis meses", disse Rato na discussão promovida pelo Instituto Peterson para a Economia Internacional. "Na verdade, acho que eles são um pouco menores."

Rato disse que os desequilíbrios existentes na economia mundial permanecem preocupantes. O déficit externo dos Estados Unidos continua enorme e países como a China e a Arábia Saudita seguem acumulando superávits expressivos.

Mas o diretor do FMI acha que pequenos ajustes ocorridos de alguns meses para cá permitem examinar a economia global com menos apreensão do que no passado.

"Os desequilíbrios têm sido financiados sem [criar] grandes ameaças", afirmou Rato. "Temos que aceitar a visão de que o risco criado por esses desequilíbrios não está se materializando e não parece um risco imediato." Mas ele fez questão de acrescentar logo em seguida: "Seria um erro dizer que os desequilíbrios não preocupam mais. Algum ajuste tem ocorrido, mas ainda há um longo caminho para percorrer."

Muitos economistas temem que uma crise ou um evento inesperado qualquer assuste em algum momento os investidores que hoje se dispõem a financiar o endividamento americano. Muitos também se incomodam porque o acúmulo de reservas na China ajuda a manter sua taxa de câmbio desvalorizada e assim torna mais competitivos os produtos que o país exporta.

Mas nos últimos meses o déficit dos EUA encolheu um pouco com a queda dos preços do petróleo. A situação fiscal do país, outra fonte de preocupação, melhorou um pouco também. E a China tomou várias medidas para conter o aquecimento da sua economia e substituir o modelo baseado em exportações por outro, em que a demanda interna seja o principal motor do desenvolvimento.

No ano passado, o FMI lançou com grande fanfarra uma iniciativa para lidar com os problemas gerados pelos desequilíbrios globais, um mecanismo de consultas multilaterais que promoveu reuniões de representantes do Fundo com funcionários dos EUA, do Japão, da União Européia, da China e da Arábia Saudita. O objetivo das conversas era buscar diagnósticos e soluções comuns, mas os resultados até agora foram frustrantes.

Rato defendeu o mecanismo observando que se trata de um "exercício voluntário", um esforço de natureza diplomática que fracassaria completamente se fosse usado para pressionar os participantes a mudar determinadas políticas, ou apenas para persuadir os chineses a adotar uma política cambial mais maleável, como os EUA gostariam.

Ao rebater críticas que tem recebido pelo fato de o Fundo não adotar uma postura mais agressiva diante de países como a China, o diretor do FMI recorreu a um comentário que disse ter ouvido há algum tempo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se encontrou em Brasília no início de 2006. "Acho que a sabedoria de Lula ao dizer que o Fundo não deveria ser culpado por tudo é uma posição boa e sábia", afirmou Rato. (RB)