Título: Rato cobra abertura maior dos ricos
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2007, Finanças, p. C12

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, cobrou ontem dos países ricos concessões que permitam mudar a maneira como o poder é distribuído atualmente na instituição, um dos principais objetivos do pacote de reformas que os integrantes do Fundo discutem desde 2005.

"Os acionistas [do FMI] como um todo, e particularmente os grandes acionistas, precisam fazer mais", disse Rato, num evento promovido pelo Instituto Peterson para a Economia Internacional, um influente centro de estudos. "Todos os países são responsáveis no fim das contas pela instituição, mas os grandes acionistas são grandes acionistas para o bem e para o mal, e acho que eles sabem bem disso."

Os países que fazem parte do Fundo estão buscando há meses uma maneira de desenhar uma nova fórmula para calcular as cotas que determinam o número de votos de cada um nas reuniões da instituição, sua contribuição para o capital do Fundo e o volume de recursos que cada integrante pode tomar emprestado quando precisa de ajuda.

Os membros do FMI concordam que as fórmulas usadas atualmente são muito confusas e não refletem adequadamente a importância econômica de muitos países, e um dos objetivos principais das reformas que estão em discussão é ampliar o espaço que países emergentes como a China e a Índia têm para influir nas decisões do Fundo.

As dificuldades encontradas para fazer avançar essas reformas serão um dos principais assuntos das conversas que ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do mundo inteiro terão no fim de semana, quando estarão em Washington para a reunião que Fundo e Banco Mundial realizam todos os anos no início da primavera do Hemisfério Norte.

Rato disse ontem que espera obter na reunião um comprometimento mais claro dos países ricos com questões de natureza política que tornam mais complicada a discussão das cotas. "Existem algumas questões técnicas complicadas aqui, mas é claro que elas não são insuperáveis", disse. "O problema é com algumas definições políticas."

Embora ainda não exista um consenso sobre a nova fórmula, simulações feitas por especialistas acadêmicos e técnicos do Fundo sugerem que será impossível garantir mais espaço para países em desenvolvimento sem obrigar países como Estados Unidos, Japão e Alemanha a abrir mão do poder adicional a que também teriam direito com a revisão das cotas.

Mas até agora apenas os EUA manifestaram publicamente sua intenção de abrir mão de qualquer aumento de cota que venha a ser determinado pela nova fórmula. Outras nações avançadas, como Japão e Alemanha, se mantiveram em silêncio sobre o assunto ou indicaram que não imitarão os EUA.

Rato não se referiu ontem a nenhum país em particular, mas indicou que esse é hoje o principal obstáculo no caminho das reformas do Fundo. "As pessoas percebem que precisam se mover para que haja movimento", afirmou. "Mas não posso dizer agora que este ou aquele país tem que aceitar isso ou aquilo.""

Pelo cronograma aprovado pelos sócios do Fundo, uma nova fórmula para realinhar as cotas da instituição deve ficar pronta até a reunião de primavera de 2008. Se houver um acordo até lá, a instituição terá mais seis meses depois disso para implementar a nova fórmula.

O diretor do FMI também reconheceu que andam devagar as discussões sobre a criação de uma nova linha de crédito da instituição para países emergentes, que seria oferecida como uma espécie de seguro para nações com políticas econômicas prudentes. "Um mecanismo como esse poderia ser útil", disse Rato. "Mas não vejo um sentido de urgência em nossos membros [para o seu lançamento]."

É fácil entender por quê. Países como o Brasil, que há tempos defendem a criação da nova linha, acumularam reservas nos últimos anos, pagaram todas as dívidas que tinham com o FMI e não precisam mais da sua ajuda hoje. Países avançados, como os EUA e o Japão, que não precisam de socorro do Fundo, apresentaram várias restrições e contribuíram para travar a discussão.