Título: Aeronáutica quer prisão e expulsão de 18 militares
Autor: Leo, Sergio e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Brasil, p. A3

O Comando da Aeronáutica quer a punição exemplar - com cadeia e expulsão - de pelo menos 18 militares que participaram do motim que resultou na suspensão, sexta-feira passada, de 80% do tráfego aéreo nacional. Este ponto é considerado de honra para os oficiais da FAB e será o norte do Inquérito Policial Militar (IPM) em curso, por solicitação do Ministério Público Militar.

O presidente do Superior do Tribunal Militar (STM), brigadeiro Henrique Marini e Souza, disse ontem que o motim foi o mais grave ato na Força desde uma revolta ocorrida em 1963. Os chefes na FAB querem deixar claro que não são tolerados casos de insubordinação.

A lista com os nomes está sendo fechada com base em informações da inteligência da instituição e abrangerá militares dos Cindactas de Brasília e de Curitiba. O IPM será restrito aos controladores que desacataram superiores. Quem entrar na lista de denunciados à Justiça Militar vai ser afastado da atividade operacional, passando á área administrativa até o julgamento. Os demais controladores - cerca de 260 no Cindacta-1, que estavam aquartelados voluntariamente - serão enquadrados por transgressão disciplinar.

Ontem, a cúpula da Aeronáutica deu demonstração de unidade e coesão em torno da liderança do comandante Juniti Saito. Os militares aproveitaram a posse do chefe do Estado-Maior da FAB, brigadeiro José Américo dos Santos, para fazer um ato de desagravo à instituição e a Saito, em particular. Ex-comandantes da Aeronáutica, ex-presidentes da Infraero, ministros do Superior Tribunal Militar (STM) e líderes de oficiais da reserva compareceram à posse de Santos, que se tornou o número 2 do comando.

Saito, que ocupava o cargo antes da sua nomeação como comandante, fez um discurso que arrancou aplausos fervorosos dos presentes ao final. Ele lembrou a importância da autoridade nas Forças Armadas e reiterou os "princípios basilares da hierarquia e da disciplina, sobre os quais não há espaço para tergiversar".

Se alguém tinha dúvidas que se tratava de um recado aos controladores e à posição inicial do governo de negociar diretamente com eles, Saito disse tratar-se de um momento "oportuno" para ressaltar que tais valores merecem "constante reflexão".

"Estes preceitos são definidos, de forma clara e precisa, na lei maior, no artigo 142 da Constituição Federal, a quem nós, militares, que escolhemos seguir a profissão das armas por livre e espontânea opção, juramos respeitar e fazer cumprir, se necessário, com o sacrifício da própria vida", acrescentou Saito.

No fim de semana, os 14 brigadeiros do Alto Comando da Aeronáutica já haviam discutido a hipótese de entregar seus cargos em conjunto, caso Saito renunciasse ao posto. Quando o comandante falou aos seus subordinados, próximo do meio-dia, os oficiais da FAB que exercem funções de chefia nos centros de controle de tráfego aéreo (Cindactas) haviam retornado às suas funções, abandonadas na véspera, quando os controladores entraram em um processo de auto-gestão das atividades. Segundo controladores, o clima era de tensão entre oficiais e sargentos.

Dois militares graduados da FAB afirmaram ao Valor que o movimento dos controladores está dividido e as lideranças ficaram enfraquecidas nos últimos dias. "Corto as mãos se chegar à metade o número de controladores militares que desejarem seguir para uma carreira civil", afirmou o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, dizendo tratar-se de uma opinião estritamente pessoal. (Com Daniel Rittner, de Brasília)