Título: Greve de Brasília gerou discordâncias em SP e Rio
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Brasil, p. A4

No topo da torre de controle do aeroporto de Congonhas, o único incômodo que se fazia sentir era um forte calor, resultado de um sistema de ar-condicionado desligado por conta da falta de energia elétrica ocorrida na região, durante a tarde de ontem. Mas, enquanto os geradores mantinham acesos os equipamentos vitais da torre, as atividades seguiam normalmente entre os controladores de vôo civis e militares que ali trabalham.

A greve que paralisou os céus brasileiros na sexta-feira e no sábado, organizada por controladores em Brasília, do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), é motivo de dúvidas e discordâncias por parte dos controladores militares baseados em outras lugares, como Rio de Janeiro e São Paulo. Alguns questionam a lógica da greve, considerada crime pelo código militar, enquanto outros têm incertezas sobre as vantagens de um dia migrarem para a carreira civil.

No Rio e em São Paulo, militares que trabalham nos órgão de controle do tráfego aéreo ouvidos pelo Valor afirmam que o clima de insatisfação instaurado em Brasília não se repete em outros centros com a mesma intensidade.

"Aqui não aconteceu absolutamente nada durante a greve, está tudo tranqüilo, apenas trabalhamos mais", afirma o tenente-coronel Delany Lopes dos Santos, responsável por coordenar o trabalho dos cerca de 230 controladores no Serviço Regional de Proteção ao Vôo (SRPV-SP), que monitora o Estado de São Paulo e do Rio e está subordinado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).

Segundo Santos, ainda há, entre seus subordinados, uma grande incerteza sobre os benefícios da desmilitarização. Alguns controladores ouvidos no SRPV-SP dizem aguardar a definição sobre como a carreira civil será estruturada para então formarem suas opiniões sobre as vantagens da transição. Hoje, segundo Santos, os militares têm benefícios de aposentadoria, como o recebimento de salário integral, além de poderem utilizar os hospitais das Forças Armadas a um custo abaixo do que seria cobrado num plano de saúde. Aqueles que não trabalham nos quartéis podem morar gratuitamente em vilas militares. "Tudo isso nós perderíamos como civis", diz. "Para que a transição valha a pena, teríamos que ganhar muito mais." Atualmente, um controlador de vôo militar pode ganhar no máximo R$ 4,6 mil (bruto). Segundo a Infraero, o salário de um controlador civil é de R$ 1,9 mil (sem adicionais).

Santos não sabe explicar, exatamente, as causas da greve no Cindacta I. Para alguns, é difícil julgar a decisão dos colegas que paralisaram suas atividades. "O clima é muito diferente dependendo do local onde cada um trabalha", diz um sargento que atua como controlador em Congonhas. Os quatro Cindactas existentes, por exemplo, além de estarem dentro de quartéis, são responsáveis por monitorar áreas extensas do país.

Um coronel que trabalha no Decea, no Rio, afirma que é difícil entender porque os controladores do Cindacta I "chegaram ao extremo de fazer a greve", arriscando suas carreiras e correndo risco de serem presos. "Aqui, civis e militares convivem e as operações sempre foram muito tranqüilas", diz. Um major que trabalha em São Paulo afirma que os controladores do Cindacta I insatisfeitos são uma minoria. Para ele, o gosto pela carreira militar predomina.