Título: Novo financiamento do Canadá preocupa Itamaraty
Autor: Leo, Sergio e Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Brasil, p. A4

O governo brasileiro recebeu com preocupação o anúncio do novo programa de financiamento do governo do Canadá à Bombardier, que disputa com a Embraer o mercado de aeronaves para linhas aéreas regionais. "Qualquer distribuição de subsídios dessa ordem de magnitude é preocupante", afirmou o subsecretário-geral do Ministério de Relações Exteriores para Assuntos Econômicos e Tecnológicos, Roberto Azevedo.

Ele foi informado ontem da intenção canadense de destinar US$ 779 milhões em cinco anos para aumentar a competitividade da Bombardier no mercado internacional. "O governo brasileiro não pode deixar de averiguar com cuidado o destino desses recursos, a natureza das atividades que ele financiará e a conformidade dessas medidas com a disciplina da Organização Mundial de Comércio (OMC)", comentou, por telefone, de Paris, onde participa de negociações da rodada de liberalização comercial da OMC, a Rodada Doha.

A Embraer está observando com atenção o programa do governo canadense. O temor da companhia brasileira é que esses recursos sejam utilizados como subsídios. "Não temos nada nesse momento que não esteja em conformidade com as regras da OMC", frisa Henrique Costa Rzezinski, vice-presidente sênior de relações externas da Embraer. "O que nos preocupa é que se transforme em subsídios para novos modelos", completa.

Embraer e Bombardier foram as protagonistas de uma das maiores disputas da OMC, envolvendo Brasil e Canadá. Com a medida anunciada ontem, o governo canadense está reeditando, com alterações, um programa de parceria tecnológica (TPC, da sigla em inglês), que foi condenado pela OMC. Para se manter em conformidade com as regras do xerife mundial de comércio, o programa deve destinar recursos para investimento em pesquisa e tecnologia. "Isso é desejável. Nós também gostaríamos", diz Rzezinski.

Mas o Canadá quebrará as regras se utilizar os recursos para lançar um modelo de aviões da Bombardier que concorreria com os jatos de 100 lugares da Embraer. "Se for com juros abaixo do mercado, será subsídio", diz Rzezinski. "Quando desenvolvemos nosso avião, fomos buscar os recursos no mercado financeiro", ressalta. Caso seja configurado o subsídio, a Embraer não hesitará em pedir ao Brasil que retome a disputa na OMC.