Título: Cobrança de Lula por repartição de cargos desagrada aliados
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Política, p. A9

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não entregar os ministérios "de porteira fechada" para os partidos aliados - retirando a autonomia das legendas para nomear todos os integrantes dos diversos escalões da Pasta - desagradou ontem os líderes da coalizão partidária. Apesar de admitirem que os cargos na administração pública federal são todos de responsabilidade do presidente e que cabe a Lula decidir como as diversas cotas serão distribuídas, parlamentares acreditam que a chamada porteira fechada garante um melhor resultado administrativo. "Se o partido tem controle de toda a cadeia hierárquica, fica muito mais fácil de cobrar responsabilidades", justificou o líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR).

Durante a primeira reunião da nova equipe ministerial, Lula avisou aos ministros que gostaria de "ver refletido nos diversos níveis hierárquicos dos ministérios o mesmo espírito de coalizão que permeou a divisão das Pastas entre seus titulares". Com isso, o presidente demonstrou simpatia com a possibilidade de técnicos de diversas legendas ocuparem o mesmo ministério, independente da filiação do titular da Pasta.

Para Castro, a verticalização completa permite "uma gestão plena do ministro empossado". Ele deu, como exemplo, o seu partido, que comanda o Ministério dos Transportes. O líder partidário acha que, sem completo controle da Pasta, o ministro pode ter seus projetos e programas comprometidos. "O Ministério dos Transportes é muito grande, está presente em todos os Estados. Se em um determinado Estado você tiver um grupo político contrário ocupando a Pasta, isso pode gerar conflitos", justificou.

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), não conversou com Lula depois das declarações da reunião ministerial. Mas confia numa promessa do petista de que o Ministério das Cidades não seria loteado entre os aliados. "Temos um compromisso claro de que isso não aconteceria", afirmou. Negromonte teme que esse cenário possa provocar insubordinação nas Pastas e a impossibilidade de execução dos projetos.

O PMDB saiu da reforma ministerial com cinco Pastas - Agricultura, Integração Nacional, Saúde, Comunicações e Minas e Energia. É o segundo maior partido na coalizão, atrás apenas do PT. Além disso, foi classificado pelo próprio presidente como um partido fundamental para a governabilidade.

Com todas essas características, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP) não demonstrou qualquer preocupação com a proposta de Lula de entregar os ministérios com "porteira aberta". E ainda foi irônico: "Tudo bem, a regra vale para todos. Desde que possamos fazer nossas indicações técnicas nas Pastas comandadas pelos aliados nos Estados, não vejo nenhum problema", brincou Temer.