Título: Legenda ganha tempo para negociar contrapartidas
Autor: Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Política, p. A7

O PSD resolveu ganhar tempo antes de aderir ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff, condição implícita nas negociações para que o partido obtenha cargos na Esplanada dos Ministérios.

Ao deixar essa decisão para o futuro, o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, não só aumenta o prazo para avaliar as eventuais alternativas na sucessão presidencial, como também sinaliza ao PT que também deseja contrapartidas eleitorais para a adesão. Em outras palavras, a relação do governo e do PT nas eleições de São Paulo em 2014. Kassab quer ser candidato a governador, mas tem dúvidas de como o Palácio do Planalto e, principalmente, o PT paulista, lidariam com isso.

As vaias que recebe em todo evento petista são claras em mostrar a rejeição do petismo a ele. Em uma campanha, isso poderia se acentuar, ainda mais com o palanque triplo que se acena para Dilma no Estado: Kassab, Paulo Skaf (PMDB) e o candidato do PT, a ser definido muito provavelmente entre os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde). Dilma subirá no palanque dos três?

Trata-se de mais um componente a ser avaliado. O motivo principal alegado para recusar assumir ministérios agora, porém, é de que não se trata do momento certo para fazê-lo.

O PSD avalia que, embora "independente", é governo na prática, o que se verifica pelo alinhamento aos projetos do governo no Congresso Nacional. Só não quer, ainda, vincular cargos à reeleição.

"Não queremos vincular a reforma ministerial com a adesão. Apoiamos o governo na maioria das votações, mas isso não significa que buscamos cargos", diz o líder do PSD na Câmara, Eduardo Sciarra (PR), para quem a tendência do partido é caminhar com o PT em 2014. "A tendência forte é apoiar Dilma. Hoje, mais de 70% do PSD quer apoiá-la. Mas vamos fazer nosso jogo, dentro do que a maioria do partido quiser. Não vemos uma regra matemática que ligue a adesão ao governo com esse apoio. Depende da conjuntura e das circunstâncias."

Ele assegura que essas "conjunturas e circunstâncias"" tem mais a ver com o partido estar unido no projeto petista do que com outros motivos, como a viabilização de candidaturas alternativas presidenciais. Eduardo Campos (PSB), por exemplo. "O partido foi formado de origens diferentes, gente que apoiou o PT, outros que apoiaram o PSDB. Temos que respeitar isso para compor a unidade. Temos afinidade com Eduardo Campos, a ideia inicial do PSD era um projeto conjunto, mas não presidencial. Esse não era um projeto que se imaginava para 2014. O próprio Eduardo Campos não via essa oportunidade lá, quando começamos a conversar. Ele passou a considerar isso mais depois das eleições de 2012."

Para Sciarra, Eduardo Campos sequer tem grandes defensores no PSD, tampouco o senador Aécio Neves (PSDB). "Queremos unidade e ela vai acontecer. Não posso dizer que tem ala pró-Aécio ou ala pró-Eduardo Campos. O que tem mesmo é uma ala majoritária que não quer assumir compromisso em troca de cargo."

A expectativa do PSD é ter uma decisão sobre o apoio a Dilma ainda neste ano, independentemente de cargos no governo. A ideia é que a discussão sobre espaços só ocorra em 2015, se Dilma for reeleita. "Em 2015, se a gente tiver participação na eleição e sairmos grandes da eleição, aí sim discutiremos espaços. Antes disso, não."