Título: PDT tem que ter responsabilidade, diz Lupi
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Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Política, p. A9

O novo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, enquadrou ontem os parlamentares do PDT que fizeram recentes críticas ao governo federal e apoiaram matérias contrárias ao interesse do Poder Executivo no Congresso. Depois de assumir oficialmente o ministério, Lupi disse respeitar a posição independente de deputados e senadores do PDT, mas afirmou que "em algumas questões o partido poderá dar a direção e todos terão que acatar".

Apesar do recado aos pedetistas, Lupi disse acreditar na responsabilidade de atuação dos parlamentares. "Eu não trabalho para controlar a palavra de ninguém. Há deliberação partidária para integrarmos o governo de coalizão. Os parlamentares têm que ter responsabilidade para atuar", afirmou.

Depois de ser empossado na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lupi recebeu ontem o cargo de Luiz Marinho - que assumiu o Ministério da Previdência. Foi uma cerimônia tumultuada e barulhenta com um discurso em que foram invocados Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, que, segundo o novo ministro, fazem parte da "comissão executiva celestial" do partido.

Em seu discurso, Lupi declarou que a pasta repetirá a mesma coalizão do governo, reunindo os partidos que apóiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Vamos continuar o que o governo vinha fazendo. A política já está traçada. Queremos fazer a coalizão com todos os partidos que apóiam o governo." Na reunião ministerial da segunda-feira, Lula vetou a entrega de ministérios com "porteira fechada".

A transmissão de cargo, realizada em um pequeno auditório onde funciona a sede dos dois ministérios, foi tomada por militantes do PDT, deputados, senadores, além de governadores e ministros. A ex-prefeita de São Paulo e ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), compunha o palanque de autoridades e foi obrigada a tirar o casaco devido ao calor.

A CUT, insatisfeita com a saída de Marinho da Pasta do Trabalho, ausentou-se da cerimônia de transmissão de cargo. Seus principais dirigentes estavam em São Paulo num seminário sobre distribuição de renda que reuniu sete centrais. O sindicalismo foi representado na posse pela Força Sindical, central dominada pelo PDT.

O barulho causado pelos militantes do PDT acabou irritando Marinho, que várias vezes interrompeu seu discurso para pedir silêncio. Já sem paciência, "exigiu respeito" e disse que "tinha o direito" de concluir o balanço de seus 20 meses de gestão. Recebeu vaias e só foi aplaudido quando avisou à platéia que iria pular trechos de seu longo discurso.

Após a cerimônia, seguranças tentaram conter o empurra-empurra na fila de cumprimentos. Lupi chegou a sair do ministério e foi para a calçada abraçar os militantes pedetistas. "Muitos me discriminam por causa da minha origem, por ser um ex-jornaleiro", disse ele, no discurso em que prometeu livre acesso das centrais sindicais ao Ministério do Trabalho.

No discurso, o novo ministro fez defesa dos direitos trabalhistas e disse que, em vez de discutir conquistas do trabalhadores, é preciso rever a carga tributária, principalmente das pequenas e médias empresas: "O quê? Vamos tirar direito da gestante? Vamos dividir o salário mínimo em 12 prestações? Você acha que algum trabalhador vai ser a favor de perder direito?´.

O ministro quase perdeu o direito de comandar a Pasta depois que seu partido saiu em defesa da CPI do Apagão Aéreo e se posicionou contra a medida provisória do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que cria um fundo para investir em infraestrutura com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Da bancada de 23 deputados do PDT, 19 assinaram o requerimento que pedia a criação da comissão.

O PDT foi uma das últimas legendas a ingressar oficialmente a coalizão do governo federal. O partido fez oposição ao presidente Lula em seu primeiro mandato, mas decidiu aderir à coalizão depois que Lula foi reeleito. (Colaborou Raquel Salgado, de São Paulo)