Título: No fim da transição, Xi Jinping promove acerto entre facções
Autor: Spegele, Brian
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Internacional, p. A12

Com o seu lugar no topo da estrutura de poder da China completamente assegurado, Xi Jinping deu início à tarefa de restaurar as fissuras partidárias que se tornaram públicas durante a tumultuada transição da liderança do país, dizem analistas políticos.

Com essa finalidade, a nomeação para a função em grande parte simbólica de vice-presidente parece ser uma coroa de louros para um segmento do partido que tem perdido espaço nas indicações para postos de liderança nos últimos meses e um sinal de que Xi está ansioso para restaurar o equilíbrio entre os diferentes grupos partidários.

Como esperado, Xi foi confirmado ontem como presidente de Estado na reunião anual da Assembleia Popular Nacional, após ter assumido em novembro como chefe do Partido Comunista e chefe militar. Mas a nomeação que recebeu mais atenção foi a do vice-presidente Li Yuanchao, que promoveu reformas políticas moderadas no passado e é um aliado do presidente Hu Jintao, que está deixando o posto.

Em novembro, Li foi preterido na promoção ao Comitê Permanente do Politburo quando os cargos do partido mudaram de mãos. Vários partidários e protegidos do ex-líder chinês Jiang Zemin ganharam assentos no Comitê Permanente, composto por sete lugares, enquanto vários ligados a Hu, não.

O Partido Comunista chinês hoje está dividido basicamente em duas facções principais. O primeiro grupo inclui partidários de Hu e é conhecido como "tuanpai", uma referência aos membros unidos por meio da Liga da Juventude do partido. O poder da outra facção principal deriva dos seguidores do ex-presidente Jiang, que, em muitos casos, estão conectados com a cidade de Xangai.

Em seus primeiros meses como líder máximo da China, Xi se colocou como figura política dominante do país, bem ao contrário de seu antecessor, Hu, que costumava se valer de um processo decisório baseado no consenso.

Xi, filho de um herói da Guerra Revolucionária, é mais visto como um aliado próximo da facção de Xangai e Jiang. Ao mesmo tempo, ele parece estar construindo uma base de apoio mais ampla ao conquistar partidários que vão de militares aos pobres das zonas rurais, enquanto promete erradicar a corrupção dentro das fileiras do partido.

A nomeação de Li sugere que é provável que ele seja promovido ao Comitê Permanente na próxima reorganização da liderança, em 2017, que dará uma visão mais clara dos candidatos que assumirão o poder após Xi, em 2022.

"Esse é um gesto muito simbólico de equilíbrio de interesses entre as facções", disse Joseph Cheng, cientista político e professor da Universidade City de Hong Kong. "É tranquilizador para os líderes mais jovens, chamados reformistas."

A liderança da China gosta de apresentar uma fachada de unidade, mas, nos bastidores, os líderes frequentemente estão divididos por questões pessoais e, em menor medida, ideológicas. Facções políticas se aglutinam em torno de líderes atuais e do passado. Complexas redes de apoio envolvendo burocracia, geografia e interesses políticos e familiares são fundamentais para a ascensão nas fileiras do partido.

Para a elite partidária, a queda de Bo Xilai, que já foi candidato ao cargo máximo, acabou expondo de forma indesejada as lutas internas. A expulsão de Bo ocorreu em meio a alegações de crimes e outras ofensas; em agosto, sua mulher foi condenada pela morte de um empresário britânico. O escândalo de Bo reforçou a desconfiança dos cidadãos de que as autoridades abusavam do poder. Foi também uma mostra de como a incapacidade dos líderes de resolver silenciosamente uma crise partidária ameaça revelar publicamente as suas desavenças.

Li atuou anteriormente como chefe do poderoso Departamento de Organização do partido. Sua escolha como vice-presidente provavelmente será bem-recebida pelos defensores de reformas na China. Como chefe da Província oriental de Jiangsu entre 2002 e 2007, ele supervisionou experimentos moderados de reforma política, incluindo uma série de medidas com o objetivo de tornar o governo mais ágil e transparente.

No entanto, analistas políticos dizem não acreditar que sua escolha como vice-presidente seja um sinal de que Xi e outros líderes estão preparando o lançamento de novas e agressivas reformas políticas.

Em vez disso, como vice-presidente, Li provavelmente será incumbido de encontros com visitantes importantes, entre outras responsabilidades. Diplomatas e pessoas próximas dizem que Li se sente à vontade para interagir com estrangeiros e fala razoavelmente o inglês. Ele também estudou brevemente na Escola Kennedy de Governo da Universidade Harvard.

"Li Yuanchao tem obviamente uma boa reputação fora da China", afirmou Guo Liangping, um especialista em política chinesa da Universidade Nacional de Cingapura. "Ele projeta uma boa imagem do país."

A Assembleia Popular Nacional também selecionou Zhang Dejiang como presidente do Parlamento. Ontem na Assembleia Xi recebeu 2.952 votos a favor, um contra e três abstenções.

Apesar de a votação dos novos líderes chineses ser uma formalidade e os resultados raramente surpreenderem, pelo menos um voto dissidente se tornou comum nos últimos anos.

Ele serve como uma pequena forma de o partido apresentar a escolha dos novos líderes como algo cada vez mais transparente, em vez de um processo dependente de negociações de bastidores entre autoridades atuais e do passado.