Título: Copom receia que inflação tenha mudado de patamar
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Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Opinião, p. A14

O diagnóstico de que a inflação pode ter mudado de patamar, exigindo maior cautela na política monetária, ficou claro na ata ontem divulgada da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada. A ata ressalta o "desconforto" com a resistência da inflação, como qualificou anteriormente o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, mas não dá pistas claras a respeito de quando começará a ser combatida com ações, e não apenas discurso.

Na reunião, o Copom manteve a taxa básica nos 7,25% em que está há cerca de seis meses, mas sinalizou a disposição de elevar os juros ao informar que irá acompanhar a "evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Dias depois do encontro, foi divulgada a elevação do IPCA em fevereiro, acumulando 6,31% em 12 meses, perto do teto da meta de inflação. A escalada dos preços levou o governo a antecipar a desoneração da cesta básica e, logo depois, a anunciar uma compensação nas contas de energia pelo maior uso das usinas térmicas neste ano. A ação do governo em várias frentes vai amenizar a escalada da inflação e a resposta do BC certamente depende do resultado dessas várias medidas.

Na ata, o Copom chamou a atenção para a "resistência" da inflação, atribuída à maior dispersão registrada nos aumentos dos preços ao consumidor, pressões sazonais e as localizadas em transportes. O receio do Comitê é que esse movimento não seja apenas temporário, mas sim sinal de uma "acomodação" em um patamar mais elevado.

Sinal evidente disso é a elevação das projeções da inflação deste ano para 5,7% e a de 2014 para 5,4%. Como registra a ata, a inflação esperada para 2014 não está mais apenas "ligeiramente" fora do objetivo, mas "se encontra acima do valor central da meta" tanto no cenário de referência quanto no de mercado.

As projeções levam em conta algumas expectativas otimistas, como a redução das estimativas oficiais para a evolução dos preços administrados de 3% para 2,7%. Não se espera, por exemplo, que a gasolina suba mais do que os 5% já registrados em janeiro, mas sabe-se que há uma grande pressão para que o combustível seja novamente reajustado para aliviar as contas da Petrobras. A queda da tarifa residencial de eletricidade esperada para o ano foi ampliada de 11%, na reunião anterior do Copom, para 15%, levando em conta as reduções dos encargos setoriais já anunciadas e "reajustes e revisões tarifários ordinários programados para este ano".

Apesar de observar que o ambiente internacional continua complexo tanto nas economias maduras quanto nos países em desenvolvimento, o Copom animou-se com sinais de acomodação dos preços sempre voláteis das commodities.

Além disso, mantém a confiança agora conservada por muito poucos na política fiscal, ao considerar como hipótese de trabalho a geração de superavit primário de R$ 155,9 bilhões neste ano e de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo.

Em relação ao nível de atividade, a ata repetiu a reveladora avaliação feita na reunião de janeiro, quando o Copom atribuiu a problemas "no campo da oferta" o fato de a recuperação da economia estar ocorrendo em um ritmo menos intenso do que o esperado, e voltou a ressaltar que esse tipo de entrave não pode ser tratado por ações de política monetária que, por definição, são instrumentos de controle da demanda. Mas o Comitê registrou sinais de retomada do investimento e uma "trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial".

Provavelmente para desfazer as suposições de que estava assumindo uma posição mais leniente em relação à escalada dos preços, o Copom resolveu encerrar o capítulo dedicado à "Implementação da política monetária", que normalmente concentra os recados aos mercados, com um enfático relato dos males da inflação. Esse parágrafo, reproduzido em atas anteriores mas sempre em posição mais escondida, ressalta que índices elevados de inflação geram distorções, "levam a aumentos dos riscos e deprimem os investimentos"; afetam o planejamento das famílias, empresas e governo; prejudicam o poder de compra dos salários e reduzem o potencial de crescimento da economia, do emprego e da renda.

Apesar dessa verdadeira profissão de fé contra a inflação e da avaliação do momento delicado, o Copom reiterou que vai continuar acompanhando a evolução do cenário até a próxima reunião para então definir os próximos passos da política monetária.