Título: Darby mira crédito para infra-estrutura
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Finanças, p. C1

Às voltas com a crescente concorrência de players internacionais e brasileiros, o fundo de private equity Darby Overseas Investments prepara investida na área de infra-estrutura no Brasil. O fundo quer participar por meio de dívida em empresas de energia, saneamento, logística e transportes, com captação de recursos no mercado local. O Darby prevê investir US$ 500 milhões em companhias brasileiras nos próximos anos, depois de aplicar US$ 200 milhões na última década em diversos fundos.

A instituição contratou Fernando Gentil, ex-executivo do ING e da resseguradora Swiss Re para chefiar as atividades no Brasil. A missão será coordenar a captação de até R$ 400 milhões no mercado local para um novo fundo private equity do tipo mezanino e acelerar a solução para alguns investimentos problemáticos no Brasil, como a participação na Siciliano. Os fundos mezanino participam de empresas com instrumentos híbridos de dívida e renda variável (têm uma participação em eventual alta de preços das ações). "Decidimos contratar Gentil porque temos interesse em aumentar a presença no país, com gente de alto calibre", diz o diretor para a América Latina, Julio Lastres. Gentil substitui Piero Mainardi, que hoje está na Gávea Investimentos, de Armínio Fraga.

O "Brazil Mezzanine" investirá em geração e distribuição de energia elétrica, saneamento, transportes, ferrovias e exploração de rodovias e portos. Ao contrário do concorrente americano Carlyle, que tem grandes investimentos em petróleo e gás no Oriente Médio e comprou uma participação na usina de álcool Santa Elisa, o Darby Overseas não investe nestes setores. "Somos mais atraídos pelo lado do consumo da equação, distribuição de combustíveis, logística", diz Lastres. Gentil diz estar negociando com bancos a distribuição do fundo no mercado local.

Os fundos que têm hoje aplicação no Brasil são Emerging Markets Fund (DEMF), e um fundo mezanino para a América Latina, Darby Latin American Mezzanine Fund (DLAMF) , além de um fundo para a América Latina junto com o banco espanhol BBV, Darby-BBVA Latin American Private Equity Fund (DBVA).

O investimento de 35% no capital das livrarias Siciliano, feito há nove anos pelo fundo de mercados emergentes, está em vias de ser realizado por meio de venda, possivelmente para a Saraiva. "Estamos tentando realizar o investimento, de maneira alinhada à família", afirma o diretor do Darby para a América Latina, Julio Lastres. O fundo não informou se perderá com a venda.

Embora o investimento na Siciliano seja considerado problemático, o Darby Overseas acertou em várias apostas na última década. Um dos investimentos que tem a melhor performance é a administradora de hotéis AHI(Atlântica Hotéis International), uma das maiores do país, com 57 unidades. O Darby também participa da companhia aérea BRA e da rede de postos de gasolina Alesat, além da fornecedora de tecnologia móvel Spring Wireless. Na companhia aérea, o fundo investiu US$ 25,2 milhões por meio do fundo DBVA.

Em entrevista ao Valor, Gentil diz que aceitou o convite do Darby porque está entusiasmado com o forte crescimento da indústria de private equity no país. Adquirido em 2003 pela gigantesca Templeton, o Darby faz parte de um grupo com US$ 561 bilhões em ativos sob gestão.

Outro bom investimento foi um empréstimo feito para a operadora de portos Santos-Brasil. O crédito foi pago pouco antes da abertura de capital da companhia, com expressivo lucro. Segundo fontes próximas à operação, as cláusulas híbridas resultaram em lucro de 50% no resgate da dívida. O diretor Lastres não fala em números, diz apenas que o fundo ficou "muito satisfeito com o resultado do investimento". Embora o fundo veja como "encorajador" o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro e mais empresas abrindo capital, a estratégia primordial de desinvestimento é a venda a investidores estratégicos. "É apenas mais uma alternativa para nossa estratégia de saída", diz.