Título: Brasil capta US$ 525 milhões com menor juro da história
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, Finanças, p. C4

O Brasil captou ontem US$ 525 milhões no mercado internacional pelo prazo de vencimento em dez anos pagando a menor taxa de retorno ao investidor da história do país para papéis em dólar: 5,88% ao ano. O prêmio sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, de 122 pontos básicos, também foi o menor da história.

"O Brasil já possui os fundamentos de grau de investimento e os investidores internacionais estão premiando o país por isso", diz Max Volkov, diretor em Nova York da Merrill Lynch, que, com o Morgan Stanley, liderou a operação. Segundo ele, apesar do rendimento "apertado", a demanda total pelos papéis ultrapassou US$ 2 bilhões.

De acordo com Volkov, grande parte dos compradores nos Estados Unidos foram os chamados fundos de "real money", que compram os papéis para ficar com eles em carteira. Esses investidores apostam que os prêmios de risco Brasil vão cair ainda mais quando o país se tornar grau de investimento e querem ganhar com isso.

O executivo da Merrill Lynch explicou que os investidores que compram papéis "grau de investimento" nos Estados Unidos preferem títulos de vencimento em dez anos - cerca de 80% de sua carteira está concentrada neste prazo. Ou seja, se o Brasil virar grau de investimento é justamente o papel que acaba de ser emitido, o Global 2017, que tenderá a ter maior alta de preços, pois terá maior demanda dos fundos mais avessos a risco. Os papéis de prazo de vencimento superior a dez anos são comprados principalmente por fundo dedicados à América Latina ou a países emergentes e também por fundos de hedge.

Os investidores que compraram a primeira emissão do Global 2017 já ganharam dinheiro. Em novembro do ano passado foi emitido US$ 1,5 bilhão deste papel de vencimento em janeiro de 2017 com o menor prêmio sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos até então: 159 pontos básicos. O retorno pago ao investidor foi de 6,249% ao ano, com preço de 98,125% do valor de face. Ontem, o preço de emissão do título subiu para 100,796% do valor de face, uma alta de 2,7%. No mercado secundário logo após a emissão, o papel já era vendido a um preço ainda maior.

Dos US$ 500 milhões emitidos ontem, 15% foram comprados por investidores europeus, 15% por brasileiros e latino-americanos e os outros 70% por norte-americanos. O Tesouro informou que a operação pode ter seguimento no mercado asiático, com emissão adicional de US$ 25 milhões ainda hoje, o que Volkov considerou o mais provável, dada a dimensão da demanda pelo papel.

Segundo o Valor apurou, o fato de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter definido como prioridades a queda no risco-Brasil e a conquista do grau de investimento em seu discurso na primeira reunião da nova equipe ministerial, anteontem, aumentou o apetite dos investidores externos. Mantega disse até que vai conversar com as agências de rating para tentar apressar o grau de investimento ao país.

Os recursos captados ontem entram nas reservas internacionais do país no dia 11 de abril. A operação que termina hoje foi a quarta captação do Tesouro no mercado internacional neste ano, com as quais obteve US$ 2,076 bilhões.