Título: Ata empurra elevação dos juros para maio
Autor: Izaguirre, Mônica; Alves, Murillo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Finanças, p. C1

"Cautela" é a palavra que resume a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem. O que reduz bastante as chances de um aperto monetário ser feito já na próxima reunião, em abril.

Eis o trecho mais importante da ata: "O Comitê pondera que incertezas remanescentes - de origem externa e interna - cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com cautela".

Decisões sobre juros são feitas com base em balanços de riscos. Num dos lados da balança está o risco de a inflação ficar resistente e se acomodar num patamar mais alto, expresso pelo Copom na ata. De outro lado, pesam incertezas domésticas e internacionais (que, diga-se de passagem, não são claramente especificadas no documento) que recomendam cautela. O Banco Central fez a escolha por esperar um cenário mais claro.

A falta de pressa em subir os juros também é sinalizada num trecho suprimido da ata anterior, de janeiro, que poderia ser interpretado como uma disposição de agir imediatamente quando o cenário inflacionário fica feio: "Assim, a estratégia adotada pelo Copom visa assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, o que exige a pronta correção de eventuais desvios em relação a essa trajetória. "

Por que o Copom está preocupado em dizer que não vai subir os juros tão logo? É que analistas do mercado financeiro insistem em prever juros mais altos já em abril, a despeito de todos os sinais do BC de que uma eventual alta, se vier, será em maio.

Na semana passada, o comunicado da reunião do Copom que manteve os juros em 7,25% deixou uma porta aberta para um eventual aperto monetário, ao tomar uma frase emprestada da administração Henrique Meirelles: "O Copom irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."

Nas três vezes em que o Copom usou essa frase, os juros subiram duas reuniões depois. O mercado financeiro entendeu o recado e passou a prever que uma provável alta de juros ocorreria apenas em maio. Mas, dois dias depois, as apostas do mercado já começaram a mudar. Muitos economistas privados passaram a especular se, com a divulgação do IPCA de fevereiro acima do esperado, em 0,60%, a estratégia de política monetária sinalizada pelo do BC em seu comunicado teria ficado precocemente velha.

Nos últimos dias, era possível perceber certo incômodo no Banco Central com a leitura de que o Copom se reuniu no começo da semana passada sem ter muita noção da recuperação da atividade industrial de janeiro e do IPCA mais alto que o esperado de fevereiro que seriam divulgados nos dois dias seguintes.

Com a sua ata, o Copom basicamente reafirma a sua estratégia - cautelosa - e dá indicações de que já sabia da piora inflacionária que viria a ser anunciada.

O comitê, na ata, indica que tinha algum conhecimento da recuperação um pouco mais forte da atividade. "O comitê destaca que informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial", diz o documento.

Também sugere que contava com a hipótese de que a inflação mais alta não se limitaria a janeiro - e que poderia vazar para os meses seguintes. Isso está indicado no trecho da ata que diz que a "dinâmica desfavorável" que provoca resistência da inflação pode "não representar um fenômeno temporário, mas uma eventual acomodação da inflação em um patamar mais alto".

Uma curiosidade: quando pediu cautela, a ata do Copom de ontem tomou emprestada uma frase usada pela primeira vez em agosto de 2001, quando a gestão Arminio Fraga suspendeu um ciclo de alta de juros. Com um pouco de Meirelles e um pouco de Fraga, o BC de Tombini cria um estilo próprio e menos previsível de comunicar a sua estratégia monetária.