Título: BC prevê inflação mais alta, mas diz que agirá com cautela
Autor: Izaguirre, Mônica; Alves, Murillo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Finanças, p. C1

O Banco Central (BC) acredita que o recente aumento da inflação pode não ser temporário, mas, sim, acomodação em um patamar "mais elevado". A possibilidade foi reconhecida na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. Alegando incertezas "remanescentes" de origem externa e interna, o colegiado pondera, no entanto, que a "política monetária deve ser administrada com cautela".

Da última vez em que defendeu uma postura "cautelosa" na definição da taxa básica de juros, o Copom elevou a Selic apenas na terceira reunião seguinte. Era dezembro de 2009 e, após ter sofrido várias quedas, a taxa estava em 8,75% ao ano. Só voltou a subir em abril de 2010, para 9,5% ao ano.

A ata sugere que uma das incertezas que justificariam cautela na condução da política monetária seria o ainda "frágil" cenário externo. A situação da economia internacional "se apresenta como fator de contenção da demanda agregada" da economia brasileira, diz o Copom. Os riscos para a estabilidade financeira global permanecem elevados e as perspectivas da atividade global moderada seguem inalteradas.

Em outro sinal de que a cautela em relação à Selic é o mote deste momento, o Comitê retirou da ata divulgada ontem trecho da anterior que dizia que a convergência da inflação para a meta (4,5%) "exige a pronta correção de eventuais desvios em relação a essa trajetória".

O último encontro do Copom, ao qual a ata se refere, ocorreu antes da divulgação do IPCA de fevereiro, que mostrou inflação acima da esperada pelo mercado e pelo BC (0,60%). A ata mostra que, mesmo antes disso, a autoridade monetária já estava preocupada com a piora da inflação. No documento, voltou a destacar a resistência da inflação ao consumidor, que apresentou maior dispersão recentemente. Destacou ainda que contribuem para essa resistência "pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes".

A variação projetada pelo BC para o IPCA em 2013 aumentou desde a reunião de janeiro e está "acima do valor central da meta" de 4,5%. A inflação projetada para 2014, que antes estava "ligeiramente" acima do centro da meta, também subiu.

Quanto à atividade, foi mantida a avaliação de que o ritmo de recuperação é "menos intenso do que se antecipava" por causa essencialmente de limitações no campo da oferta. Por outro lado, a ata diz que "informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial" do PIB.

O Copom adverte, na ata, que a política fiscal tem sido "expansionista", o que tem pressionado a demanda doméstica.

Em reação à ata, o banco Itaú Unibanco aposta que um novo ciclo de aperto monetário começará em maio. Antes, a previsão era de estabilidade da Selic até o fim do ano. Segundo relatório assinado pelos economistas Ilan Goldfajn e Caio Megale, haverá quatro altas de 0,25 ponto percentual. Essa expectativa decorre da percepção de que a inflação permanecerá pressionada. Mas os economistas ponderam que, se houver um alívio inesperado na inflação no curto prazo, "a programada elevação de juros poderá inclusive não ocorrer".

O economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, classificou o documento como "velho", por considerar que a ata reflete o que o BC tinha em mente antes da divulgação de recentes indicadores. Ele diz que a inflação de fevereiro veio "feia" e a de março não parece muito melhor até agora. "Levando isso em consideração, continuamos achando que o BC será forçado a começar a subir [a Selic] em abril, com um movimento de 50 pontos-base (0,5%)."

Carvalho chama atenção para um novo e "importante" parágrafo introduzido pelo BC (o 28), que, segundo ele, parece "ambíguo".

Nesse parágrafo, o comitê diz que "a maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor, pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência". Segundo o documento, essa dinâmica "desfavorável" pode não ser um fenômeno temporário, "mas uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado". Em seguida, diz que, dadas as incertezas de origem interna e externa, a política de juros deve ser administrada com "cautela".

"O que quer que isso signifique, nos parece hesitante", critica Carvalho, que segue com a previsão de que a piora na dinâmica inflacionária forçará o BC a aumentar a Selic já em abril. "Não há tempo a perder. Suspeitamos que a ata simplesmente ainda não reflete todos os dados ruins de inflação que foram divulgados após o encontro de política monetária."

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, espera alta da Selic em abril, mas diz que a ata amplia chance de o ajuste ser adiado para maio. "A função reativa do BC tem sido muito volátil e, assim, não descartamos que possa simplesmente esperar pelo melhor e ficar em modo de espera por mais um tempo -- ficando ainda mais "atrás da curva", em nossa visão", disse Ramos em seu relatório.

A equipe do banco de investimento Brasil Plural, liderada por Mário Mesquita, acredita que o ciclo de aperto monetário começará em maio, com alta da Selic de 0,50 ponto percentual. Em relatório, diz que a ata do Copom possui um discurso misto, que oscila entre trechos de tom mais grave com relação à inflação e outros parágrafos mais tolerantes. Esse perfil sinaliza que o BC tem como cenário-base hoje a previsão de um aperto monetário, mas deixa portas abertas, caso seja necessária a manutenção do juro no patamar atual (7,25%).

Já a equipe de economistas do Credit Suisse, chefiada por Nilson Teixeira, acredita que a Selic aumentará em 25 pontos-base na reunião de 16 e 17 de abril, "com implementação de um ciclo de aperto monetário de 125 pontos-base, de 7,25% para 8,50%". Teixeira aponta três motivos expostos na ata como justificativas para seguir projetando alta da Selic: deterioração da dinâmica da inflação; projeções de IPCA para 2013 e 2014 mais elevadas; inexistência de motivos que justifiquem a postergação de um aperto monetário, uma vez que o quadro já está dado.

Para o Credit Suisse, o emprego da sentença "a política monetária deva ser administrada com cautela" diminui significativamente a probabilidade de um eventual aumento da Selic em abril na magnitude de 50 pontos base.