Título: Houston, we've got a problem, mas tudo bem
Autor: Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Finanças, p. C3

A inflação brasileira está mais resistente, as projeções para 2013 e 2014 continuam superando o centro da meta e para pior, há maior dispersão de aumentos de preços ao consumidor e o IPCA pode se acomodar em patamar mais elevado. A política fiscal do governo se mantém expansionista. E embora já tenha sido anunciado formalmente pelo governo que a meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB não será cumprida, essa é a indicação cristalizada nos parâmetros utilizados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ao traçar sua estratégia para a política de juros do país.

O ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica, menos intenso do que se antecipava, se deve essencialmente a limitações no campo da oferta, insiste o Copom, que não desistiu de apontar ao governo e ao mercado que a ação da política monetária tem limites.

No entanto, na ata divulgada ontem - e que poderia ser dedicada ao Palácio do Planalto -, o Banco Central afirma que informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial. E mais: a ata do Copom, que em janeiro identificava nos programas de concessão de serviços públicos, estoques em níveis ajustados e gradual recuperação da confiança dos empresários um ambiente propício para a retomada dos investimentos, agora em março vê "perspectivas de intensificação dos investimentos".

Mas o Copom guardou uma linha dura para a inflação. A ata manteve a ênfase na dinâmica dos preços de certos ativos reais e financeiros, que o mercado lê como taxa de câmbio. E que, a partir do documento apresentado ontem, o BC classifica como "importante força desinflacionária". Isto é, "na hipótese de permanecerem nos atuais níveis". Por ora, o câmbio está com tudo para ajudar no controle da inflação. E o juro? Por ora, não.