Título: Na boca do povo
Autor: Luquet, Mara
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2007, EU & Investimentos, p. D1

A Secretaria do Tesouro prepara um pedido de verba de publicidade à Presidência da República para divulgar o sistema de venda de títulos federais pela internet, o chamado Tesouro Direto. Há hoje cerca de 80 mil investidores cadastradas no sistema, um número extremamente baixo se comparado ao potencial desse mercado, na avaliação dos técnicos do Tesouro envolvidos no programa. Para o Tesouro, os cerca de 20 milhões de clientes com acesso ao internet banking deveriam ao menos conhecer este tipo de aplicação, o que elevaria o interesse dada sua competitividade. No entanto, não há qualquer esforço dos bancos em fazer das aplicações do Tesouro Direto um produto conhecido entre sua clientela. Por isso, os técnicos do sistema avaliam que será necessário aumentar os esforços na divulgação.

O projeto prevê uma série de ações para que a pessoa física conheça o sistema, lançado em 2002, mas ainda completamente desconhecido do grande público. "A gente quer que o programa cresça bastante e vamos ter planos mais ousados de divulgação", diz uma fonte do Tesouro.

O programa de venda de títulos do governo pela internet conta com uma forte simpatia do próprio presidente Lula que, numa reunião com técnicos do Tesouro no ano passado, chegou a dizer que seu sonho era conseguir vender títulos públicos para seringueiros na Amazônia.

No entanto, a expansão da venda tem um entrave relevante que é a distribuição do produto. Mesmo estando literalmente ao alcance da mão, pois é possível fazer tudo pela internet, o investidor precisa se cadastrar num banco ou corretora para liquidar a operação; E há uma enorme falta de informação sobre este tipo de aplicação nos bancos.

"Nosso público não precisa ter uma grande quantia para investir: o acesso à internet e cerca de R$ 200 são suficientes", diz uma fonte do Tesouro. "Mas um dos principais entraves que vemos ao desenvolvimento do Tesouro Direto é a falta de informação pois, no Brasil, o povo tem cultura bancária, mas não tem cultura financeira", acrescenta.

Algumas corretoras independentes não cobram taxa de corretagem nas operações do Tesouro Direto pois enxergam no sistema um aliado para conquistar novos clientes. No entanto, os grandes bancos de varejo vêem o sistema como um forte concorrente a seus produtos, como fundos. Assim, não colocam essas operações no cardápio que seus gerentes apresentam à clientela, não fornecem informações sobre o produto e, em alguns casos, cobram uma taxa elevadíssima de corretagem. Enfim, dificultam muito o acesso ao produto.

Por essa razão, o Tesouro resolveu ele mesmo fazer barulho neste ano. E já fez uma reformulação no site do Tesouro Direto para deixá-lo mais amigável ao investidor pessoa física, esperando pelo resultado da campanha publicitária que os técnicos acreditam que tenha início em breve.

No novo site, além de muitas informações sobre este tipo de aplicação e dos títulos do governo federal disponíveis, há também um simulador que mostra o papel mais indicado ao perfil de cada investidor. Hoje o trabalho de divulgação do programa é feito por meio de palestras dos técnicos do Tesouro em universidades, feiras e eventos públicos. "A gente não tem a pretensão de que o Tesouro Direto concorra com a poupança", diz um técnico do Tesouro. "Mas com o fundo de investimento a gente quer concorrer", acrescenta.

Segundo a fonte, os fundos de renda fixa detêm hoje cerca de 50% da dívida do governo. Parte desse volume poderia ser financiado diretamente pelo investidor pessoa física. O aumento da participação do Tesouro Direto neste mercado poderia ainda contribuir para melhorar a oferta de fundos de renda fixa aos clientes. Isso porque os bancos teriam de adequar os custos dos produtos a níveis mais razoáveis para não perder clientela.

Aplicar no Tesouro Direto é uma forma barata de ganhar com as taxas de juro ainda altas paga pelo governo para financiar sua dívida. Quando faz esta aplicação diretamente, o investidor paga a taxa de corretagem, que é o quanto a corretora cobra pelo serviço e varia de instituição para instituição. Há ainda a taxa de 0,4% para a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), que é quem guarda os títulos em nome do investidor.

No total os custos não chegam a 1% do valor a operação, o que é bastante competitivo principalmente para pequenos investidores. Se for recorrer a um fundo de investimento em renda fixa distribuído no varejo, o pequeno investidor costuma pagar taxas de administração extremamente elevadas, em geral de 3%, mas em alguns casos acima de 4%.

No caso das aplicações para a previdência, a competitividade dos títulos é ainda maior, pois planos de previdência como PGBL e VGBL cobram também taxa de carregamento sobre cada aporte do investidor, o que aumenta o custo da aplicação. "Uma NTN-B (atrelada ao IPCA) longa com fluxo de pagamentos concorre diretamente com os planos de previdência", diz a fonte do Tesouro.

O site do Tesouro Direto é www.tesourodireto.gov.br . Dúvidas sobre o sistema podem ser encaminhadas para o e-mail: tesourodireto@fazenda.gov.br