Título: Índices de inflação em SP apontam tendências diferentes para os preços
Autor: Elias, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2013, Brasil, p. A2

Os dois índices que acompanham semanalmente a inflação na cidade de São Paulo estão registrando comportamentos díspares para os preços. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) registrou deflação de 0,11% no período de quatro semanas encerrado na segunda semana de março, resultado que aponta desaceleração em relação ao período anterior, que ficou em alta de 0,06%.

No mesmo período de quatro semanas, a inflação medida pelo IPC da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para a cidade de São Paulo, registrou alta de 0,40%, indicando aumento em relação às quatro semanas anteriores, quando a inflação ficou em 0,30%.

Parte dessa diferença se explica pela energia elétrica. O IPC da Fipe começa só agora a sofrer os impactos mais profundos da redução de 18% nas tarifas de energia elétrica, concedida pelo governo federal no fim de janeiro. Com queda de 11,81%, o preço da eletricidade foi o principal fator para a queda de 0,11% registrada pelo IPC-Fipe na segunda quadrissemana de março - redução mais acentuada do que a de 0,08% esperada pela entidade. O indicador mede a evolução dos preços na cidade de São Paulo.

"A nossa metodologia considera apenas o momento em que a conta de luz chega e interfere de fato no salário, enquanto as demais levam em consideração o momento em que as pessoas ficam sabendo da redução e, com isso, planejam seus gastos", explicou Rafael Costa Lima, coordenador do IPC-Fipe. Isso explica o fato de o IPC-Fipe recuar 0,11% no mesmo período em que o IPC-S, divulgado ontem pela FGV, subiu 0,4% em São Paulo.

No IPC da FGV, bem como no IPCA, do IBGE, os impactos maiores da redução de energia vieram em fevereiro. No IPC-Fipe, estão se intensificando só agora e devem continuar influenciando até fim de abril. "Sem considerar energia, o índice teria sido de aproximadamente 0,37%", disse Lima.

A energia contudo, não "resolve" toda diferença entre os dois indicadores, porque em fevereiro, quando o índice da FGV incorporou a queda da energia, o índice da Fipe subiu na mesma proporção. Em fevereiro, a inflação registrada pelo IPC da Fipe foi de 0,22%, e o IPC de São Paulo da FGV variou 0,21%. No mês passado, contudo, o índice da FGV já incorporou energia, e por isso o grupo habitação encerrou o mês com deflação de 1,33%.

A discrepância entre os índices de fevereiro foi provocada pelo item alimentação. Depois de encerrar janeiro com alta de 2,11%, o grupo alimentação, na pesquisa da Fipe, subiu 0,34% em fevereiro, acumulando 2,45% no ano. Na pesquisa da FGV (sempre para São Paulo), o grupo alimentação subiu 1,68% em janeiro e 1,13% em fevereiro, totalizando 2,82% no ano.

Em março, alimentos voltaram a subir na Fipe (de 0,49% na primeira semana para 0,64% na segunda semana), enquanto registram lenta redução no ritmo de alta no IPC paulista da FGV - 1,17% na primeira semana para 1,08% na segunda semana.

Na Fipe, apesar da alta no grupo alimentação, o coordenador destacou que, considerados apenas os produtos que compõem a cesta básica - desonerada pelo governo federal há 11 dias -, já foi possível ver uma pequena queda na segunda semana de março, comparada à anterior - justamente o período em que as desonerações passaram a valer. A cesta básica da Fipe, que considera 51 produtos vendidos em supermercados de São Paulo, teve queda de 0,55%, o equivalente a R$ 1,85. A cesta completa saiu de R$ 338,54 para R$ 336,69 de uma semana para a outra.

Considerados apenas os 11 produtos que, dentro da cesta da Fipe, tiveram algum tipo de desoneração, a redução foi ainda maior: de 2,79%, ou R$ 2,48 a menos, saindo de R$ 88,77 para R$ 86,29. "Não dá para dizer que é só efeito da desoneração, porque alguns produtos já vinham apresentando tendência de queda, caso de algumas carnes e do frango", disse o coordenador do IPC da Fipe. "Mas o fato de a queda média entre esses produtos estar maior do que a média geral da cesta é uma indicação de que já há algum impacto."