Título: Custo de investimento não é entrave à expansão do PIB
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2007, Brasil, p. A6

Os preços dos bens de investimento no Brasil não são exagerados e nem refletem um choque nas cotações dos bens de capital a partir dos anos 80, avalia um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que será divulgado hoje. Números de 2005 mostram que os preços dos bens de investimento brasileiros são mais altos do que da China, Índia e Argentina, mas estão bem abaixo do que em países com Rússia, México e África do Sul . As cotações brasileiras também são bastante inferiores às de países desenvolvidos: 12% menores que as dos EUA e 38,7% que as do Japão.

Por esse ponto de vista, os preços desses bens não são um entrave à expansão do investimento, que voltou a crescer com força no Brasil nos últimos três anos, num cenário de contas externas sólidas e estabilidade macroeconômica. Para os economistas Fernando Puga e Marcelo Nascimento, autores do estudo, as causas para a retração da formação bruta de capital fixo (FBCF) até o começo desta década foram as políticas de restrição de demanda que se seguiram à crise externa dos anos 80.

O estudo do BNDES analisa a evolução dos preços dos bens de investimento no Brasil desde os anos 60, refutando a tese de que a redução na taxa da FBCF decorreu do encarecimento dos bens de capital a partir da década de 80. Analistas ortodoxos consideram que o aumento relativo dos preços de bens de capital foi conseqüência da política de substituição de importações adotada até os anos 70, que teria protegido muito a produção nacional, resultando num setor oligopolizado e ineficiente.

Isso explicaria a queda da FBCF (que mede investimentos na construção civil e em máquinas e equipamentos) como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida a partir dos anos 80. Depois de superar 28% do PIB nos anos 70, a taxa despencou na década seguinte e têm oscilado nos últimos anos em torno de 16% ao ano a preços de 2000 - a taxa está na casa de 20,5% a preços correntes. Puga e Nascimento contestam essa análise. Eles dizem que houve de fato um aumento relativo dos preços dos bens de capital a partir dos anos 80, mas acreditam que isso ocorreu basicamente devido à queda dos preços gerais da economia e não pela alta dos primeiros.

Quando se comparam as cotações em dólares dos bens de investimento brasileiros com os preços internacionais, o quadro é bem diferente. De 1966 a 1979, os preços de bens de capital no país andavam em linha com os estrangeiros. Nos anos 80, porém, os brasileiros ficaram bem mais baratos - em 1985, custavam apenas um terço dos internacionais. "Esse descolamento está relacionado à crise econômica que se seguiu aos choques do petróleo nos anos 70. Como resposta, foi implementada uma rigorosa política de contenção de demanda, acompanhada por sucessivas desvalorizações cambiais", escrevem eles. "As mudanças no câmbio levaram a que os preços domésticos ficassem bem abaixo dos internacionais."

A partir do fim dos anos 80, os preços de bens de capital no Brasil se aproximaram dos estrangeiros, devido à liberalização comercial. Em momentos de crise externa, como em 1999 e 2002, as cotações brasileiras voltaram a cair, mais uma vez refletindo desvalorizações do câmbio. Nos últimos três anos, com maior estabilidade econômica e a valorização da taxa de câmbio, houve "um cenário de convergência entre os níveis de preços dos investimentos no Brasil e no mundo". Como são bens comercializáveis internacionalmente (tradables), eles seguem mais de perto as cotações internacionais, explica Puga. Isso ajuda a explicar porque, de 1976 a 1980, "o índice geral de preços da economia caiu 58% em termos internacionais", enquanto os preços do investimento recuaram menos - 40%.

De 2000 a 2005, os preços de investimento brasileiros subiram 17% em dólares, devido à valorização do câmbio. Isso não foi suficiente, porém, para tornar as cotações de bens de capital nacionais muito elevadas internacionalmente. Os bens brasileiros são 10,9% mais baratos que os russos e 17% que os mexicanos. Na comparação com os chineses, porém, a situação é outra: os preços dos bens de capital nacionais são 102% maiores.

Para Puga e Nascimento, a recuperação do investimento deve continuar nos próximos anos. As contas externas estão mais ajustadas, as empresas têm capacidade para investir e há expectativa de maior crescimento. Com isso, o país tem tudo para elevar a FBCF como proporção do PIB - e o preço dos bens de investimento não vai atrapalhar esse processo.