Título: Queda no preço da energia pode ajudar inflação
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Fonte: Valor Econômico, 15/03/2007, Brasil, p. A6

A expectativa de reduções expressivas das tarifas de energia elétrica neste ano é um dos motivos que levam alguns economistas a revisar para baixo suas estimativas para a inflação em 2007. Na terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um corte de 5% nas tarifas residenciais cobradas pela Ampla Energia e Serviços, que atende 66 municípios no Rio de Janeiro. No começo do mês, a Aneel havia determinado uma diminuição de 6,67% nos preços da Coelce, do Ceará.

São percentuais expressivos, acima do que esperavam bancos e consultorias, que começam aos poucos a incluir um cenário ainda mais favorável para as cotações de energia em suas projeções. Se forem confirmados cortes de tarifas dessa magnitude para outras concessionárias, será mais um fator a reforçar projeções de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abaixo de 4% em 2007, e abaixo do centro da meta, de 4,5%. Já as apostas numa queda nos preços da gasolina neste ano diminuíram bastante, porque o diferencial entre os preços internos e externos do produto diminuiu significativamente nas últimas semanas.

A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, passou a estimar uma queda neste ano de 2,5% para o grupo de energia elétrica, que tem peso de 3,75% no IPCA. Antes da divulgação de números como a do corte das tarifas da Coelce, ela previa estabilidade para esses preços. Marcela está revisando suas projeções para o IPCA e para o conjunto de preços administrados. A estimativa para o IPCA, hoje em 4,1%, deve cair para 4% ou ligeiramente abaixo disso. Para os preços administrados (como tarifas de energia elétrica e telefonia), a aposta é de uma alta de cerca de 3,5%, abaixo da previsão anterior em torno de 4%.

"Os números divulgados são bastante favoráveis", diz Marcela. As novas tarifas a serem cobradas pela Ampla vigoram a partir de amanhã, enquanto as da Coelce só valem a partir de abril, após uma audiência pública.

O economista Adriano Lopes, do Unibanco, também diz que os primeiros índices de correção de tarifas de energia elétrica surpreenderam positivamente. Por enquanto, ele estima que o grupo de energia elétrica no IPCA não terá variação neste ano, mas diz que pode reduzir suas projeções se os reajustes de outras concessionárias saírem em linha com os da Coelce e da Ampla.

Lopes diz que nas próximas semanas deverão ser divulgados os índices de correção de concessionárias importantes, como Cemig, Coelba e AES Sul. Se os percentuais de redução definidos pela Aneel forem significativos, ele acredita que vários analistas vão reduzir suas estimativas para o grupo de energia elétrica e provavelmente também para o IPCA. Por enquanto, Lopes mantém sua previsão de 4% para o indicador que serve de referência para o regime de metas.

No caso da Coelce, vários fatores levaram a Aneel a definir a redução dos preços a serem cobrados. Na revisão tarifária, constatou-se aumento de produtividade, redução do custo de energia adquirida em leilões e uma melhora da economia, marcada pela queda dos juros e do risco-Brasil.

O economista Otávio Aidar, da Rosenberg & Associados, também foi surpreendido pelos anúncios de redução de tarifas feitos pela Aneel. Por enquanto, ele espera um reajuste de 2% nos preços do grupo energia elétrica, mas acredita que o percentual tende a ser a menor.

Há duas semanas, a Rosenberg revisou sua projeção para o IPCA em 2007 de 4% para 3,6%, em parte por causa da melhor perspectiva para os preços de energia elétrica e em parte por causa da aposta num câmbio mais valorizado. Antes, a consultoria esperava um dólar de R$ 2,25 no fim do ano. Hoje, a estimativa é de que a moeda americana feche 2007 em R$ 2,17.

Os preços de combustíveis, por sua vez, não deverão ser uma fonte de alívio para a inflação. Na virada do ano, havia uma expectativa de que a cotação da gasolina caísse, uma vez que os preços cobrados no Brasil estavam bastante acima dos vigentes no exterior, num momento de queda do petróleo no mercado internacional. Nas últimas semanas, porém, esse quadro mudou. Segundo cálculos do Credit Suisse, o preço da gasolina doméstica na refinaria estava 10% acima das cotações externas, com base nos números da segunda-feira, um diferencial bem menor que os 21% registrados em 9 de fevereiro e os 29% em 12 de janeiro.

Em dois meses, o impacto sobre o IPCA de um possível realinhamento das cotações domésticas às externas caiu de 0,72 ponto percentual para 0,25 ponto. "Com a recente elevação dos preços externos e a alta volatilidade no mercado de petróleo, julgamos que se tornou ainda menos provável uma redução dos preços da gasolina doméstica em 2007", escrevem os analistas do Credit Suisse, por acreditar que a Petrobras não deve alterar preços num cenário de incerteza. (SL)