Título: Presidente fica mais parecida com antecessor
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2013, Política, p. A10

Mais do que a tendência de crescimento na avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff, o que a pesquisa CNI/Ibope revela é a consolidação de outro movimento: Dilma está cada vez mais parecida com o antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Isso vale tanto para o crescimento de sua popularidade no eleitorado com menor renda e escolaridade, concentrado mais na periferia e nos grotões do que nas capitais; quanto para a indefinida política para a nova classe média, que ainda titubeia em despontar como grande apoiadora do governo petista. É o que mostra uma avaliação mais apurada dos resultados do levantamento.

Na comparação com a pesquisa de dezembro, Dilma ampliou de 67% para 71% a avaliação de ótimo e bom do seu governo para os eleitores com grau de instrução até a quarta série do ensino fundamental - acima, portanto, da margem de erro.

Para aqueles que têm renda familiar de até um salário mínimo, subiu de 68% para 70%. Dentro da margem de erro, mas com clara sinalização de crescimento. Em dezembro de 2011, o percentual era de 66%.

Assim como na era Lula, nas capitais o apoio é menor do que fora delas. Caiu de 60% para 58%, mas cresceu nas suas periferias (de 53% para 54%) e no interior (de 65% para 67%). E o apoio dos eleitores com ensino superior também caiu, de 54% para 53%. Lula sempre teve problemas nesse setor da sociedade.

No entanto, esses números mostram que tem dado certo a aposta do PT em retomar em 2014 a velha oposição entre ricos x pobres no debate eleitoral. Foi esse o mote do ato de 33 anos do partido em fevereiro em São Paulo, que reuniu no palanque Lula e Dilma. Desde 2002 tem funcionado. Trata-se da faixa majoritária do eleitorado.

Só que os estrategistas da presidente devem também começar a se atentar para a tal nova classe média, que ascendeu no país nos últimos anos, carece de serviços públicos de qualidade e apoia o governo, mas parece estar ainda sob estado de observação.

Na faixa de renda de cinco a dez salários mínimos, a queda na aprovação foi de 66% para 61%. Entre dois e cinco salários mínimos foi de 61% para 60%. De quinta a oitava série do ensino fundamental caiu foi de 66% a 64% e no ensino médio manteve-se estável com 60%. Nas capitais, caiu de 60% para 58%, enquanto nas periferias subiu de 53% para 54% e no interior registrou o mesmo movimento, de 65% para 67%.

Evidente que são índices altíssimos que estão longe de tirar o favoritismo de Dilma na sucessão presidencial. Mas que mostram onde pode estar seu ponto fraco e a possível brecha para seus adversários investirem.

A tarefa, contudo, é árdua. Os números deram um banho de água fria no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), apontado como aquele que pode rachar o lulismo no Nordeste. Ali, a aprovação do governo assumiu a ponta de todas as regiões do país: passou de 68% para 72%.

O discurso econômico levantado pelo senador Aécio Neves (PSDB) também não encontrou respaldo nos entrevistados. Ao contrário, cresceram as percepções positivas de combate ao desemprego (56% para 57%), combate à inflação (45% para 48%), a política de impostos (30% para 36%) e taxa de juros (41% para 42%).

O que mostra que a questão regional e econômica fazem aumentar as similaridade de Dilma com a era Lula. O Nordeste passa a ser a região onde ela é mais forte, ao mesmo tempo em que o Sul começa a dar sinais de ser seu ponto fraco. A presidente teve queda de 62% de avaliação positiva para 60%. As medidas econômicas assumem a ponta das notícias mais lembradas pela população (29%).

No geral, o que parece é que na medida em que Dilma deixou para trás o estilo apresentado no primeiro ano de seu mandato, com faxinas éticas e ênfase na gestão, e passou a ficar mais parecida com Lula ao se render ao fisiologismo e ao palanque eleitoral, os índices de apoio ao seu governo começam também a ficar parecidos com o do ex-presidente.

A pesquisa mostra ainda que a disputa entre os ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação) pela indicação a candidatura ao governo de São Paulo deve se acirrar. A aprovação da educação cresceu de 43% para 47% enquanto a desaprovação caiu de 56% para 50%. Na saúde, área que continua sendo a pior avaliada pela população, houve um significativo crescimento na aprovação, de 25% para 32%. A desaprovação caiu de 74% para 67%.