Título: Maduro muda câmbio a um mês da eleição
Autor: Murakawa, Fabio
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2013, Internacional, p. A11

O governo venezuelano anunciou ontem a criação de um sistema de leilões para tentar injetar mais dólares no mercado e aliviar os efeitos da escassez da moeda americana principalmente sobre os importadores do país, o que tem se refletido em um desabastecimento de produtos básicos a menos de um mês da eleição presidencial de 14 de abril.

O Sistema Complementar de Administração de Divisas (Sicad), que entra em vigor na segunda-feira, oferecerá dólares a empresas credenciadas que precisam da moeda americana para operar.

A Venezuela, que tem 96% de suas exportações concentradas no setor petrolífero comandado pela estatal PDVSA, importa cerca de 70% do que consome.

Com câmbio fixo, inflação alta e incertezas políticas e econômicas no horizonte, as empresas importadoras, ou que precisam de insumos importados, vêm encontrando dificuldades para encontrar a moeda americana no mercado, explica o economista-chefe para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos. Com isso, o dólar paralelo disparou no país, e ontem era cotado a 23,57 bolívares, quando a taxa oficial de câmbio era de 6,30 bolívares por dólar.

O Sicad substituirá o Sitme (Sistema de Transações com Títulos em Moeda Estrangeira), que fora eliminado com a desvalorização do bolívar de 4,30 para 6,30 por dólar no último dia 8 de fevereiro. A diferença é que pelo Sitme, pessoas físicas também podiam comprar dólares a uma cotação de 5,30 bolívares, valor bem abaixo do paralelo no país.

Os dólares não irão diretamente para as empresas, segundo o governo, para evitar que eles sejam vendidos no mercado paralelo. Em vez disso, as empresas receberão uma carta de crédito que poderá ser usada para pagar fornecedores no exterior. Preços e quantidades dos produtos serão auditados.

Segundo Ramos, um efeito imediato do novo sistema deve ser baixar a cotação do dólar no mercado paralelo, uma vez que haverá mais oferta dessa divisa no país. Além disso, ao vender dólares por um valor maior do que a cotação oficial, diz ele, o governo melhora suas contas fiscais. Segundo analistas, o déficit fiscal venezuelano girou entre 12% e 15% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado. "Por outro lado, se trata de uma nova desvalorização [do bolívar] disfarçada", afirma.

Um analista em Caracas, que pediu anonimato, afirma que outra preocupação do governo é satisfazer o eleitorado de classe média, com vistas à eleição. Com uma quota de cerca de US$ 400 dólares por ano para a compra da moeda no sistema Cadivi (Comissão de Administração de Divisas), eles têm que recorrer ao dólar paralelo para custear suas viagens ao exterior. Como se prevê uma queda da moeda americana no mercado negro com a nova medida, isso pode aliviar um pouco sua insatisfação.

O presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, disse ontem que a estatal repassará ao Banco Central do país US$ 41,4 bilhões neste ano. Uma parte será destinada ao Cadivi. A outra, aos leilões do Sicad.

Em 14 de abril, o presidente interino Nicolás Maduro enfrenta o oposicionista Henrique Capriles. Maduro, sucessor indicado pelo presidente Hugo Chávez, morto há duas semanas, lidera as pesquisas.