Título: Alimentos fazem IPCA superar teto de inflação em 4 capitais
Autor: Martins, Diogo
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2013, Brasil, p. A4

O grupo alimentação e bebidas é o maior responsável pelo aumento generalizado de preços nas regiões que já ultrapassaram o teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta para 2013 é 4,5%, e o teto, 6,5%.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que, no acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro, 4 dos 11 locais observados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ultrapassaram esse nível - Belém, Fortaleza, Recife e Salvador. Enquanto nesses locais o IPCA varia de 7% a 8,7%, no acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro, a alta de alimentação e bebidas, no mesmo período, é muito maior, indo de 15,3% a 18%.

O presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB) e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Luiz Fernando de Paula, afirma que a inflação nessas regiões é maior que no resto do país em razão da política de distribuição de renda adotada pelo governo. "A inflação tem sido mais aguda nessas cidades porque elas são mais pobres. Com essa política de distribuição de renda do governo, os mais pobres ficam com mais dinheiro, e a demanda aumenta, tanto por alimentos quanto por serviços. São eles quem dedicam a maior parte do orçamento familiar para a compra de alimentos", afirma De Paula, acrescentando que os problemas climáticos ocasionados pela seca também prejudicaram a oferta de alguns alimentos. "É um problema de oferta e demanda", complementa.

O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, diz que a inflação no Norte e no Nordeste é grande devido ao peso de alimentos nessas regiões. Segundo ele, tão logo os preços dos alimentos desacelerem, a inflação nesses locais cederá. De acordo com a ponderação do IPCA, o peso de alimentação e bebidas é de 26,1% no Recife; 26,5%, em Salvador; 31,2%, em Fortaleza, e 33,7%, em Belém, enquanto a média nacional é de 24%.

"Conter uma inflação baseada em alimentos e também em serviços com instrumentos de política monetária é difícil. Os efeitos são quase nulos. Talvez, o mais efetivo seja agir por meio de políticas fiscais, como fez o governo com a desoneração da cesta básica", diz o economista João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na avaliação de Saboia, a inflação de serviços está baseada no aumento de renda da população e a alta de preços nesse setor depende da "disposição" do consumidor em pagar mais por eles. Já a inflação de alimentos, afirma o professor da UFRJ, além dos problemas de seca, é influenciada também pelo preço de determinados itens acompanharem as cotações internacionais.

Priscila Godoy, economista da Rosenberg Associados, diz que, se toda a desoneração da cesta básica fosse repassada ao consumidor, o IPCA seria impactado com 0,5 a 0,6 ponto percentual de baixa. Ela, no entanto, não acredita que isso ocorrerá. "Esse repasse não será todo feito. E, se fosse, o efeito demoraria até aparecer no IPCA e as áreas mais beneficiadas seriam aquelas que já ultrapassaram o teto da meta do BC", diz ela.

A projeção da consultoria é que o IPCA encerre 2013 com alta de 5,8%. Segundo Priscila, em março, o IPCA superará o teto da meta e, com isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá aumentar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,25%, em 0,25 ponto percentual na próxima reunião.