Título: Ibre estima alta de 1% no PIB do primeiro trimestre
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2013, Brasil, p. A4

Após um início de recuperação morna no fim de 2012, uma retomada mais expressiva da indústria e do investimento irá garantir expansão mais forte, de 1%, do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2013 em relação aos últimos três meses do ano passado, feito o ajuste sazonal. A estimativa é dos economistas do grupo de conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). De acordo com a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre, esse ritmo vigoroso, no entanto, não deve ser mantido ao longo do ano em sua opinião. "Temos dados bons na margem, mas a economia ainda não está funcionando direito", diz ela.

Na edição de março do boletim, Silvia projeta que, pela ótica da oferta, a indústria dará a principal contribuição positiva para o PIB de janeiro a março, com alta acima de 1% sobre o último trimestre de 2012, influenciada pela volta ao normal da produção de caminhões. As montadoras do setor, lembra a economista, paralisaram suas atividades no início do ano passado devido à troca de motores pelo sistema Euro 5, menos poluente, porém mais caro. Em janeiro, quando a produção industrial avançou 2,5% ante dezembro, o segmento de veículos automotores, que inclui caminhões, saltou 4,7% em igual comparação.

Esse mesmo movimento, de acordo com Silvia, também irá impulsionar, pelo lado da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil). Suas estimativas apontam para alta ao redor de 3% da FBCF entre o quarto trimestre de 2012 e o primeiro deste ano, em termos dessazonalizados, após aumento de 0,5% entre outubro e dezembro passado.

Com a melhora na parte de caminhões, a economista nota que o Indicador Mensal do Investimento (IMI) do Ibre cresceu 0,9% no trimestre encerrado em janeiro em relação ao período anterior, feito o ajuste sazonal, enquanto uma prévia do instituto para o consumo aparente de bens de capital (medida da produção interna, descontada as exportações, somada às importações desses produtos) subiu cerca de 8% no trimestre terminado em fevereiro frente ao mesmo período do ano anterior.

Esse "ciclo vigoroso" da indústria e do investimento, contudo, deve perder ímpeto nos próximos trimestres, segundo a economista do Ibre, já que foi provocado por fatores pontuais. Silvia ainda menciona a cautela manifestada pelos empresários nos indicadores de confiança calculados pela FGV como indício de que a economia se recupera em ritmo lento. O Índice de Confiança Agregado da Economia (que engloba os indicadores referentes à indústria de transformação, serviços, construção e comércio) está próximo da média histórica de 119 pontos, o que, para a fundação, reflete uma visão neutra do empresariado quanto ao nível atual de atividade.

A inflação "alarmante", na opinião de Silvia, é mais um fator que deve moderar a velocidade da retomada da atividade a partir dos próximos trimestres, já que exigirá aumento dos juros. O Monitor da Inflação da FGV sinaliza que, com o fim do impacto da redução das tarifas de energia elétrica, o IPCA pode superar 0,5% em março.

Essa variação, se confirmada, levaria o indicador acumulado em 12 meses a ultrapassar o teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Diante do quadro ainda pressionado para a evolução dos preços, os analistas do Ibre trabalham com três aumentos de 50 pontos base na Selic a partir de maio, aperto monetário que seria suficiente para desacelerar o ritmo de reaquecimento da economia, na avaliação de Silvia.