Título: ONS quer mais poder de decisão para reduzir riscos
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Fonte: Valor Econômico, 15/03/2007, Especial, p. A20

Apesar de assegurar que o suprimento de energia para o Brasil está garantido até 2009, o presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, admite que há insuficiente oferta de hidrelétricas novas no país desde o racionamento de 2001. Por isso, ele acha que é hora de melhorar o chamado equilíbrio hidrotérmico do sistema, com maior geração de térmicas para poupar água das usinas hidrelétricas.

"Se por um lado a energia fica um pouco mais cara, de outro vai garantir mais segurança no atendimento, porque nas térmicas há garantia de abastecimento, enquanto a geração hídrica é imprevisível. E com as mudanças climáticas, cada vez mais o clima ficará mais aleatório e de difícil previsão", explica Chipp. O presidente do ONS é enfático ao lembrar que apesar de mais caras, as térmicas são importantes para dar mais segurança ao Sistema Interligado Nacional (SIN), tornando o suprimento mais previsível.

E adiantou ao Valor que vai apresentar um projeto ao Governo pedindo prerrogativas para o Operador ter autonomia para adotar procedimentos que lhe permitam, por exemplo, antecipar o despacho térmico para garantir o suprimento de energia quando as estatísticas mostrarem a possibilidade de hidrologia ruim dois anos à frente. "Se o nível de armazenamento projetado for ruim, vamos planejar uma meta e fazer intercâmbio de energia entre as região de forma preventiva", diz Chipp.

Ele lembra que isso já foi feito no ano passado, quando o Sudeste despachou para o Sul 5.200 MW de maio até outubro, além de manter as térmicas da região Sul funcionando todo o período. Mas para adotar esse procedimento, o ONS precisou de autorização do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Hermes Chipp se diz tranqüilo quanto ao suprimento de energia para o Brasil em 2007 e 2008 mostrando dados de armazenamento dos reservatórios. Segundo ele, o país precisa chegar em abril deste ano com 71% de armazenamento de água no Sudeste e de 43% no Nordeste, mas encheram muito mais. E os dados mais recentes mostram que o nível de armazenamento nas duas regiões é maior do que o necessário: está em 84,2% no Sudeste e 85% no Nordeste.

O volume de chuvas em dezembro e janeiro foi tão grande que foram abertas comportas de alguns reservatórios para evitar transbordamento. Mesmo quando feito o cálculo de similaridade, projetando para abril de 2007 cenário com base nas séries históricas semelhantes, ou mesmo a pior série do histórico do ONS (1990), o nível de afluência dos rios esperado para abril foi de 92,78% no Sudeste e 78% no Nordeste. "É muito mais do que precisamos", afirma Chipp.

Segundo ele, a situação é tranqüila mesmo retirando 2.700 MW de capacidade das térmicas da Petrobras - que estavam fora por falta de contrato de gás ou de venda de energia - e sem contar com o despacho da usina de Cuiabá (que estava com problemas com suprimento da Bolívia.

Apesar da folga trazida pelas chuvas, alguns fatos são incontestáveis. Um deles é que apenas oito usinas estão com "sinal verde" Aneel para construção. No horizonte de 2007 a 2010 as usinas listadas até agora pela agência como sem restrição têm capacidade de gerar 5.577 MW, o que é insuficiente para garantir a energia que o Brasil precisaria se crescer os 4,5% e 5% previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Já alguns projetos de grande porte, como as hidrelétricas Estreito e Santa Isabel , com potência de 1.087 MW, cada, têm graves problemas, inclusive ambientais. Além disso, como foram licitadas no modelo anterior, com regras que previam o pagamento de ágio, sequer estão em construção já que é necessária uma regra que permita incluir esse ágio na tarifa.

"Se o Brasil crescer o que o PAC prevê, inexoravelmente teremos um apagão. Se crescer um pouco menos, passaremos os próximos quatro anos rezando para chover e também rezando para que o senhor Evo Morales não faça nenhuma estripulia na Bolívia", diz o economista Adriano Pires, sócio do do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). (CS)