Título: Demanda por fertilizante cresce 45,7% no trimestre
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2007, Agronegócios, p. B12

Estimulados pelo preços favoráveis dos grãos, os agricultores brasileiros elevaram as compras de fertilizantes, com vistas à expansão do plantio da safra de inverno. Mas terão um fator limitador para as compras: o aumento nos preços internacionais dos fertilizantes. Levantamento feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Matérias Primas para Fertilizantes (Sinprifert) indica que as matérias-primas para fertilizantes subiram até 146% em relação a março de 2006. O aumento, segundo representantes das indústrias, será repassado aos produtores a partir de abril.

O levantamento, baseado nas encomendas feitas pelos produtores, aponta que as entregas de fertilizantes entre janeiro e março deste ano estão 45,7% maiores, na comparação com o primeiro trimestre de 2006, totalizando 4,64 milhões de toneladas. As importações estão estimadas em 3,126 milhões de toneladas, volume 80,3% maior que em igual intervalo de 2006. Os estoques devem diminuir 16,1% no período, totalizando 2,708 milhões de toneladas.

Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), reitera que o aumento da demanda no período deveu-se basicamente à antecipação de compras para o plantio da safrinha de milho e das culturas de inverno. "Também houve muita entrega de nitrogenados para a cultura de cana, que deveria ter sido entregue em dezembro", afirma. Ele observa que também há maior procura de insumos por produtores de café, celulose e citros, estimulados pelos melhores preços desses itens no mercado internacional. "Houve muita compra antecipada. Os estoques de passagem estão baixos e as indústrias, que deveriam reduzir o ritmo agora, estão operando com força total."

De acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o plantio de milho na safrinha deve aumentar 17,1% em área, para 3,875 milhões de hectares, e 21,1% em volumes, para 12,959 milhões de toneladas. Também há previsão de aumento da área de girassol em 20,9%, para 80,9 mil hectares, e de 28,2% em produção (120 mil toneladas).

No balanço fechado do primeiro bimestre, feito pelo Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas do Estado de São Paulo (Siacesp), as entregas já haviam aumentado 37,4% em relação ao primeiro bimestre do ano passado, para 3,07 milhões de toneladas de produtos. As importações no período aumentaram 81,48%, para 2,176 milhões de toneladas. As entregas cresceram mais na região centro-sul, onde houve aumento de 40,1%, para 2,703 milhões de toneladas. Nas regiões Norte e Nordeste, o aumento foi de 19,9%, para 367 mil toneladas.

Ainda conforme o Siacesp, os preços da matérias-primas para a produção de fertilizantes registraram fortes aumentos. O cloreto de potássio, por exemplo, aumentou 63% em 12 meses, para US$ 220 por tonelada. A uréia subiu 146%, para US$ 350 por tonelada e o sulfato de amônio, 125%, para US$ 175 por tonelada.

Carlos Eduardo Florence, diretor-executivo da Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA Brasil), afirma que o aumento ocorreu em função do cenário internacional. "A explosão da demanda por milho e cana para produção de biocombustíveis e a alta nos preços internacionais de grãos estimularam o aumento do plantio em todo o mundo, especialmente na China, Estados Unidos, Brasil e Índia, que são os quatro maiores produtores agrícolas".

Do lado da oferta, observa, houve inundações em minas de cloreto da Rússia e EUA, que são os principais fornecedores da matéria-prima, o que provocou uma redução da oferta global de 6 milhões de toneladas. "É o que o Brasil inteiro consome no ano e o Brasil é o segundo maior consumidor de cloreto", observa. Conforme Florence, as entregas estão ocorrendo normalmente no Brasil. Ele diz ainda que a alta do mercado internacional não foi totalmente repassada aos produtores brasileiros porque o dólar caiu, mas que isso deve mudar a partir de abril.