Título: Austeridade é necessária e já está funcionando, diz ministro finlandês
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2013, Internacional, p. A11

Países como Grécia, Espanha, e Portugal, no olho do furacão da crise, estão tomando um remédio amargo e necessário. E vão colher bons resultados no futuro.

A afirmação é de Jan Vapaavuori, ministro da Economia da Finlândia, um dos países mais alinhados à Alemanha na imposição das amargas medidas de austeridade às economias mais problemáticas da zona do euro. Com uma situação relativamente saudável, o país sofre com as dificuldades dos vizinhos europeus, que absorvem cerca de 60% das exportações finlandesas. Mas, enquanto os vizinhos se afundam em uma crise que pode durar muitos anos, o país nórdico está à procura de novos mercados, além de parceiros para seus investimentos. E o Brasil, diz o ministro, está no centro das atenções.

Na semana passada, Vapaavuori visitou o Brasil com uma comitiva de 40 empresários dos setores de energia, mineração, naval e exploração de petróleo. Mantiveram encontros com empresários daqui e também com os ministros Marco Antonio Raupp (Ciência e Tecnologia), Paulo Bernardo (Comunicações) e Edison Lobão (Minas e Energia). Na quinta-feira, último dia de sua estada, Vapaavuori conversou com o Valor.

Valor: A Finlândia é um país extremamente eurocêntrico: a Europa é destino de cerca de 80% de seus investimentos diretos no exterior e de quase 60% das exportações do país. A sua vinda ao Brasil significa uma mudança de estratégia?

Jan Vapaavuori: Certamente. Quase 40% do PIB finlandês vem da exportação. Claro que, por ser um pequeno país nórdico, os mercados mais óbvios são os países vizinhos na zona do euro. Mas, conhecendo os desafios que a Europa está encarando neste momento, é natural que estejamos tentando encontrar novos parceiros um pouco mais longe. Assim, nós estamos colocando mais ênfase em grandes mercados como o Brasil.

Valor: O seu país sempre foi um dos mais alinhados à Alemanha na defesa das políticas de austeridade na Europa. Mas já se vê uma certa fadiga em relação a essas políticas. O sr. teme que a oposição nas ruas possa minar a austeridade?

Vapaavuori: A Alemanha e a Finlândia são países que ainda têm as notas triplo A nas principais agências de avaliação de risco. Nós adotamos o mesmo tipo de política econômica, e nossa economia ganhou muito com isso. A maior parte dos países europeus sabe que cuidar bem de suas finanças é a melhor garantia no mundo global. É mais fácil prever que os outros países europeus no futuro seguirão o exemplo alemão, finlandês ou holandês do que o contrário.

Valor: Não é importante gerar algum crescimento no curto prazo?

Vapaavuori: Nós temos agora na Europa muitos maus exemplos de países que colocaram ênfase demais no crescimento em curto prazo. Pode-se fazer isso por algum tempo, até por alguns anos, mas um belo dia você percebe que essa não é a maneira de perfazer um crescimento sustentável. Toda a Europa agora está colocando mais ênfase em uma perspectiva de longo prazo. E isso significa que, no curto prazo, você precisa sofrer um pouco, se contentar com um crescimento menor, a fim de colocar a economia em forma e fazer as mudanças estruturais necessárias para conseguir um crescimento melhor no futuro. É a única chance.

Valor: O sr. acha que as políticas adotadas por países como Espanha e Portugal estão funcionando?

Vapaavuori: Sim. A história mostra que você tem que engolir um remédio amargo se você deixou sua economia em mau estado. E que você tem fazer algumas mudanças estruturais, equilibrar o Orçamento estatal, porque isso traz ganhos no longo prazo.

Valor: O sr. vê ainda vê possibilidade de a Grécia deixar o euro?

Vapaavuori: Não especulo sobre isso. Mas é honesto admitir que a situação na Grécia é muito difícil. E que levará muitos anos para que eles se recuperem.

Valor: Em 2012, Jorma Turunen, que é CEO da Federação Finlandesa de Indústrias de Tecnologia, disse sobre o euro que "o barco está afundando", defendendo a saída do país da moeda comum. Alguns membros do coalizão de governo finlandesa já aventaram essa possibilidade. Isso pode realmente acontecer?

Vapaavuori: A Finlândia é uma democracia aberta, com liberdade de expressão. Mas essas opiniões não representam a maioria. Aderimos ao euro por pensar que a estabilidade que ele dá a um país pequeno é importante. E, mesmo que a zona do euro esteja agora enfrentando problemas, nós estamos convencidos de que ela é boa para a Europa e boa para a Finlândia.