Título: Petrobras, Braskem e Ultra compram grupo Ipiranga
Autor: Vieira, André e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2007, Empresas, p. A4

A aquisição do grupo Ipiranga, que deve ser anunciada hoje, aumenta expressivamente a participação da Petrobras na indústria petroquímica e na distribuição de derivados de petróleo. O negócio prevê a compra do segundo maior grupo privado nacional pela estatal em sociedade com dois grupos até então tidos como rivais: o Ultra e a Braskem, controlada pela Odebrecht. O valor total da operação - incluindo minoritários - deve superar os US$ 3 bilhões.

A transação foi dividida de acordo com as três áreas de negócio da Ipiranga: petroquímica, distribuição de combustível e refinaria. Na petroquímica, a Petrobras e a Braskem comprarão a Ipiranga Petroquímica (IPQ), controladora da central de matérias-primas Copesul. Segundo o Valor apurou, a Braskem deve ficar com 60% de participação na IPQ e a Petrobras, com 40%. A expectativa é de que seja feito o fechamento de capital da Copesul.

Em uma fase posterior, esses ativos petroquímicos, mais participações da Petrobras em empresas como a Petroquímica Triunfo, deverão ser incorporados à Braskem. Com isso, a Petrobras elevaria sua participação na empresa do grupo Odebrecht dos atuais 10% para 40%, com poder de voto e veto.

Com esse desenho, conclui-se a consolidação do pólo petroquímico do Sul, a exemplo do que já ocorreu com o pólo de Camaçari (BA), quando a Odebrecht adquiriu a Copene e integrou todos os ativos petroquímicos na Braskem. Detalhe interessante: na disputa pela Copene, a Odebrecht venceu o grupo Ultra, tido como o favorito.

Na distribuição de combustíveis, o desenho envolve o Ultra e a Petrobras - a Braskem fica de fora. O Ultra vai ficar com os ativos da Ipiranga nas regiões Sul e Sudeste, mantendo a bandeira atual dos postos de serviços. A Petrobras, que é líder nesse mercado, com uma participação de 32%, fica com o resto do país. A divisão por regiões foi a solução encontrada para evitar concentração da estatal nesse segmento (em que ela atua com a bandeira BR). Se comprasse sozinha as duas empresas de distribuição do grupo Ipiranga, sua fatia superaria 50% do mercado.

Na refinaria, os três grupos - Petrobras, Ultra e Braskem - se unirão para adquirir a empresa mais antiga do grupo. Cada um ficará com uma fatia de 1/3 do negócio. A refinaria, instalada em Rio Grande (RS), não representa nem um 1% do faturamento de cerca de R$ 31 bilhões do grupo Ipiranga.

O Valor apurou que a operação não envolverá dinheiro. As famílias que controlam o grupo Ipiranga receberão ações em pagamento e as empresas serão incorporadas pelos compradores. Os herdeiros têm cerca de um sexto do capital total do grupo, mas podem receber até US$ 1 bilhão em ações por conta do prêmio de controle.

Uma fonte do mercado financeiro avaliou que o mais provável é que o pagamento seja feito por meio de uma cesta de ações das três empresas, de alta liquidez. O que está certo é que não haverá oferta de aquisição de ações dos minoritários. Inicialmente, chegou-se a cogitar a obtenção de financiamentos com Credit Suisse, ABN Amro e Citibank.

A incorporação será feita de acordo com o valor econômico dos ativos - baseado em laudos de avaliação. Há um certo receio entre minoritários a respeito das relações de troca entre as ações da Ipiranga e dos compradores. Em casos recentes, como o da Ripasa, os minoritários recorreram à Justiça para receber o mesmo prêmio pago aos controladores.

As negociações sobre como seria feita a incorporação e o tratamento dado aos minoritários avançaram pela noite de ontem, apesar de todo a modelagem operacional já estar concluída.

O conselho de administração da Petrobras bateu o martelo sobre a transação na sexta-feira, com o apoio da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, que também preside o conselho da estatal. A ministra, que defende a intervenção do Estado no fortalecimento dos grupos nacionais, tentava costurar um acordo com a Ipiranga desde o ano passado, quando a Petrobras não exerceu a opção de elevar sua participação na Braskem.

No ano passado, o exercício da opção foi dificultado pelo calendário eleitoral - havia a preocupação com a percepção de que o pólo petroquímico gaúcho fosse parar nas mãos da baiana Odebrecht. As resistências não paravam por aí. Outros grupos petroquímicos torciam o nariz para o "casamento" Petrobras e Braskem. Ao trazer o Ultra para a operação, essa resistência foi minimizada.

Superada a fase de consolidação do pólo do Sul, a expectativa é de que haja um rearranjo dos ativos petroquímicos no Sudeste. "A Suzano e a Unipar podem ganhar a confiança da Petrobras para liderar a reestruturação de empresas como Petroquímica União e Rio Polímeros", diz fonte do setor.

Desde o início do governo Lula, a Petrobras tem defendido que sua atuação no segmento petroquímico deve ser de "participações minoritárias relevantes", mas há quem veja na atitude uma tentativa de reestatização do setor.