Título: Deputados de MS e PR lideram a 'nova' corrida pelo Ministério da Agricultura
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2007, Política, p. A6

Os deputados Waldemir Moka (MS) e Reinhold Stephanes (PR) despontam como favoritos para assumir o Ministério da Agricultura, uma indicação que será feita pelo PMDB da Câmara. O nome deverá ser escolhido hoje, em provável reunião do presidente Lula com o recém-reeleito presidente do partido, Michel Temer, que levará ao Planalto uma lista com pelo menos cinco sugestões.

Abaixo de Moka e Stephanes, aparecem os deputados Eunício Oliveira (CE), Fernando Diniz (MG) e Tadeu Filippelli (DF). Indicado na semana passada ao cargo, Odílio Balbinotti (PR) não resistiu às denúncias de supostas irregularidades e tomou, no sábado, a iniciativa de desistir do ministério.

No mesmo dia, Temer comunicou a Moka que ele é o preferido entre os colegas de partido. Integrante da bancada ruralista, teria ainda o apoio de entidades do setor, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Por ironia, são justamente essas características que podem inviabilizar a escolha de Moka por Lula.

Segundo um ministro que acompanha as negociações, o presidente teme nomear para a Agricultura um deputado excessivamente próximo da bancada ruralista, o que poderia tirar dele a autonomia de suas ações na pasta - embora o perfil de Balbinotti tenha pontos semelhantes. De acordo com o mesmo ministro, diante desse cenário a balança pende para Stephanes: ele tem experiência administrativa (foi ministro da Previdência nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso), conhece bem o setor (foi secretário de Agricultura do Paraná) e vem - como Moka, mas ao contrário dos demais nomes da lista do PMDB - de um Estado essencialmente agrícola.

A resistência de Lula a Moka pode estar associada ao apoio do deputado à candidatura de Geraldo Alckmin nas eleições presidenciais do ano passado. O tucano teve Moka como um dos principais articuladores da aliança que fechou com o PMDB de Mato Grosso do Sul. Ele pediu votos a Alckmin na televisão, tanto no primeiro quanto no segundo turno, e barrou todas as tentativas da campanha de Lula para obter o apoio do partido no Estado. Mesmo sendo primo do ex-governador Zeca do PT, Moka também é visto como ameaça pelos petistas sul-mato-grossenses, que não têm qualquer cargo de primeiro escalão no governo federal.

Se virar ministro da Agricultura, o deputado reforça seu cacife para candidatar-se ao Senado por um Estado de economia fortemente baseada na agropecuária em 2010, quando poderá enfrentar a concorrência do próprio Zeca e de Delcídio Amaral, que finalmente se reaproximou do presidente e Lula e cujo mandato se encerrará naquele ano.

Moka reconhece ter feito oposição ao governo federal e, especialmente, à gestão de Zeca do PT (1999-2006) em Mato Grosso do Sul. Ele afirma que não ficará "chateado" se Lula vir um impedimento à sua indicação por esse motivo e se diz bastante disposto a colaborar agora com o presidente, seguindo a decisão da bancada do partido na Câmara de apoiar o governo. "Não vou renegar as minhas posições passadas", avisou. "Mas se o presidente Lula quiser alguém que representa um sentimento, é uma oportunidade de trazer um segmento ao seu governo, ou pelo menos se aproximar desse segmento", acrescentou Moka, em referência à bancada ruralista.

A situação de Balbinotti ficou insustentável menos de uma semana após sua indicação e antes da posse após a divulgação de documentos mostrando que funcionários seus foram usados como "laranjas" para obter crédito junto ao Banco do Brasil. Os documentos foram encaminhados pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF), no processo em que Balbinotti é acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos. Funcionários que ganhavam menos de R$ 1 mil tinham dívidas de até R$ 2 milhões com o banco. Pressionado, o deputado, grande produtor de sementes de soja, desistiu do ministério. Mas o PMDB não abre mão do cargo.