Título: Poupança para o automóvel novo
Autor: Bonfanti,Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 19/12/2010, Economia, p. 18
A solução encontrada pelo Banco Central (BC) para disciplinar os financiamentos de automóveis, tornando maiores os juros para as compras com entrada menor, levou o brasileiro a refazer as contas para começar o ano novo de carro zero. Não diminuiu, porém, o ímpeto dos consumidores. Com mais dinheiro no bolso, resultado de incrementos de salário e expectativa de manutenção no emprego, os compradores estão preferindo pagar à vista, a exemplo de quem escolhe presentes nos shopping centers neste Natal.
O médico Rafael Vilela, 27 anos, escolheu o caminho de economizar para comprar o seu primeiro carro. ¿Juntei dinheiro e o que tenho visto em relação a preços não surpreendeu muito. Quero pagar à vista porque arcar com o financiamento não dá¿, comenta. A mesma estratégia foi adotada pelo vigilante André Paulo de Araújo, 28 anos, que poupou por mais de um ano para poder trocar de veículo. ¿Os preços são salgados e o parcelamento é sempre muito pesado. Economizar nunca é fácil, mas vale a pena para fugir dos juros¿, pondera. O diretor comercial da concessionária Brasal, Hélio Aveiro, afirma que as medidas adotadas para barrar o crédito já foram sentidas pela empresa. ¿Até a semana passada, o fluxo de pessoas estava melhor. Agora diminuiu um pouco, mas a loja continua movimentada. Permanece cheia¿, avalia.
Quem não pode pagar todo o veículo no ato da compra nem consegue se planejar precisa recorrer aos financiamentos. É o caso do professor de matemática Fernando Alex, 43 anos. A família do educador cresceu e com o quarto filho do casal a caminho, será necessário um carro maior. Para renegociar a dívida do veículo que já possui, Alex acredita que terá dificuldades. ¿Os juros vão ser maiores, não tem jeito. Mas acho que essas medidas são coisa de início de governo. Depois, as condições voltam¿, prevê.
Mesmo os consumidores que não têm muita opção procuram suavizar o peso das parcelas e dos juros. Roberto Ferreira, atualmente desempregado, e sua mulher, a assistente administrativa Crislaine de Souza, querem enfrentar as estradas brasileiras nas férias. Para isso, compraram ontem um automóvel novo. ¿Estou há sete anos com o meu automóvel. Agora, a situação financeira está melhor. Então, vamos aproveitar. Vou dar o carro velho como entrada e financiar o que sobrar, para ver se consigo diminuir as prestações¿, revela.
"Economizar nunca é fácil, mas vale a pena para fugir dos juros¿
Rafael Vilela, médico